segunda-feira, 8 de agosto de 2016

LUCINDA SIMÕES – Actriz





Lucinda Simões (Lisboa, Portugal, 1850 - 1928).

O talento excepcional desta actriz, dá-lhe o incontestável direito de figurar no lugar de honra da nossa modesta publicação, Os Theatros – Jornal de Crítica” .

Artista de raça, possui como nenhuma a verdadeira ciência do metier.

Trabalhando ao lado dum artista de elite, que o público e a imprensa ingratamente parece ter esquecido – Furtado Coelho – tornou-se notável em várias peças, como: Teresa Raquin, Le Demi-Monde, A Vida de Um Rapaz Pobre e outras.

O belo periódico espanhol “Ilustracion Ibérica” em 1883, dizia desta eminente actriz o seguinte:

«Rival de la Marini, de la Sarah Bernhardt, de las actrices mas eminentes de Europa, las supera á todas en naturalidade, en acierto para identificar-se com los personajes que representa. Sólo hubiera podido hombrear-se com ela (a pesar de ser mujer tambien) Matilde Diez, ya defunta por disgracia para el arte español, y que sino la aventajaba, la igualaba al menos.»

Consola ver estranhos fazer elogios a um talento, que é uma glória nacional, e que mesquinhas invejas pretenderam aniquilar.

Ainda não há muito, tivemos ocasião de vê-la no Teatro D. Maria em dois papéis de grande responsabilidade, brilhar como astro de primeira grandeza; e se houve quem não simpatizasse com o seu trabalho, pela índole ingrata dos personagens, não há contudo quem se atreva a apontar-lhe defeitos.

Lamentamos que incompatibilidades alheias a nosso ver, ao domínio da crítica, obrigassem uma artista da estatura de Lucinda Simões, a sair do nosso primeiro teatro, onde ao lado de Brazão e Rosas poderia proporcionar muitas noites de glória ao palco do nacional. Se lamentamos não ver esta artista no nosso primeiro teatro, não lamentamos menos, não ver ali figurar uma outra artista de superior talento, Ana Pereira.

É de toda a justiça que na febre de enaltecer elogios ao merecimento dum actor, aliás, distintíssimo, que ora nos visita, nos não esqueçamos que de bom temos cá por casa.

Fazemos ardentes votos para que a tentativa de Lucinda, na Rua dos Condes, seja coroada do melhor êxito. Há tudo a esperar do talento, fino gosto e savoir faire desta eminente actriz.


C.A.


in, “Os Theatros – Jornal de Crítica” – Lisboa, 7 de Novembro de 1895.


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Em 1922, Lucinda Simões publicou o livro, Memórias.
Faleceu dias depois de lhe ter sido feita uma festa de homenagem e despedida dos palcos na sala do Teatro da Trindade.



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