sábado, 10 de setembro de 2016

CRISTOVAM PAVIA - Requiem






Cristovam Pavia (Lisboa, Portugal, 1933 – 1968).

Publicou, aos vinte anos, os seus primeiros poemas nas duas mais importantes revistas literárias desse período, a “Távola Redonda” e a “Árvore”.
Fez parte do núcleo central da revista “O Tempo e o Modo”, constituído pelos escritores : Nuno de Bragança, Alberto Vaz da Silva, Pedro Tamen, João Bernard da Costa e António Alçada Baptista.

Publicou, em 1959, 35 Poemas, a única obra poética editada em vida, na qual se reconhece a originalidade da sua poesia.



Palavras de Cristovam Pavia:

“Pensava que uma das poucas qualidades que tinha era a ausência de inveja. Não é verdade. Invejo os poetas.” 



             Requiem
(ao menino morto, eu próprio)


A tarde declina com uma luz ténue.
Estou grave e calmo.
E não preciso de ninguém
Nem a luz da tarde me comove: entendo-a.
Até as imagens me são inúteis porque contemplo tudo.

Os ventos rodam, rodam, gemem e cantam
E voltam. São os mesmos.
Como os conheço desde a infância!
E a terra húmida das tapadas da quinta...
O estrume da égua morta quando eu tinha seis anos
Gira transparente nesta brisa fria...
(Na noite gotas de orvalho sumiam-se sob as folhas das ervas)
Oh, não há solidão, nas neblinas de inverno
Pela erma planície...

E foi engano julgar-te morto e tão só nas tapadas em
silêncio...

Agora sei que vives mais
Porque começo a sentir a tua presença, grande como o silêncio...
Já me não vem a vaga tristeza do teu chamamento longínquo
Já me confundo contigo.


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