quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O JULGAMENTO DE GUERRA JUNQUEIRO





O JULGAMENTO DE GUERRA JUNQUEIRO


O nosso primeiro poeta teve de comparecer, pela primeira vez na sua vida, perante o tribunal de S. João Novo, acusado do crime de abuso da liberdade de imprensa. 

Na “Voz Pública” de 2 de Dezembro, e após actos lamentáveis de desordem pública nas quais perdeu a vida um pobre operário, publicou Guerra Junqueiro um entête, que a autoridade julgou ofensiva da majestade real.

Tendo a querela corrido seus trâmites, o julgamento realizou-se no dia 10 de Abril, em júri misto constituído por três juízes.

Foi defensor o snr. dr. Afonso Costa, deputado da nação, que produziu um magnífico discurso em defesa do seu constituinte. 

Por seu turno, Guerra Junqueiro convidado a acrescentar que em sua defesa julgasse útil, leu um documento de alto relevo literário, mas violentíssimo quanto à essência, que os jornais diários publicaram, e foi o assunto obrigado de todas as conversas.

O genial escritor foi condenado em cinquenta dias de multa a mil réis por dia, custas e selos do processo.

À saída do tribunal, a grande multidão que assistira ao julgamento, acolheu-o com uma formidável ovação.


in “Argus” – Maio 1907



GUERRA JUNQUEIRO (Freixo de Espada à Cinta, Portugal, 1850 – Lisboa, 1923), político, jornalista, escritor e poeta.



Publicação nº 1234


Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...