terça-feira, 30 de junho de 2015

Antes Ter um Bom Rendimento do que Ser Insinuante

 
 
 
 
 
 

Oscar Wilde (Dublin, Irlanda, 1854 – Paris, França, 1900).

Foi escritor, dramaturgo e poeta.

 

 
Palavras de Oscar Wilde:

“"Há momentos em que é preciso escolher entre viver a sua própria vida plenamente, inteiramente, completamente, ou assumir a existência degradante, ignóbil e falsa que o mundo, na sua hipocrisia, nos impõe.”



Antes Ter um Bom Rendimento do que Ser Insinuante


A menos que se tenha muito dinheiro, não vale a pena ser uma pessoa encantadora. O sentimentalismo é privilégio dos ricos, não é profissão para desempregados. Os pobres devem ser práticos e prosaicos. Antes ter um bom rendimento do que ser insinuante.

 

Oscar Wilde, in "O Modelo Milionário"
Imagem: pintura de Wassily Kandinsky (Rússia, 1866 – França, 1944).

 

 

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Quem não Ama a Solidão, não Ama a Liberdade

 
 
 
 
 

Arthur Schopenhauer (Gdansk, Polónia, 1788 Frankfurt, Alemanha, 1860).

Foi o primeiro filósofo alemão a incorporar o pensamento oriental nas suas obras.

 
Palavras de Arthur Schopenhauer:

“A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de carácter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem.”

 

 
Quem não Ama a Solidão, não Ama a Liberdade

 

Nenhum caminho é mais errado para a felicidade do que a vida no grande mundo, às fartas e em festanças (high life), pois, quando tentamos transformar a nossa miserável existência numa sucessão de alegrias, gozos e prazeres, não conseguimos evitar a desilusão; muito menos o seu acompanhamento obrigatório, que são as mentiras recíprocas.

Assim como o nosso corpo está envolto em vestes, o nosso espírito está revestido de mentiras. Os nossos dizeres, as nossas acções, todo o nosso ser é mentiroso, e só por meio desse invólucro pode-se, por vezes, adivinhar a nossa verdadeira mentalidade, assim como pelas vestes se adivinha a figura do corpo.

Antes de mais nada, toda a sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma temperatura; por conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será. Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre.

 A coerção é a companheira inseparável de toda a sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exacta do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.

Ademais, quanto mais elevada for a posição de uma pessoa na escala hierárquica da natureza, tanto mais solitária será, essencial e inevitavelmente. Assim, é um benefício para ela se à solidão física corresponder a intelectual. Caso contrário, a vizinhança frequente de seres heterogéneos causa um efeito incómodo e até mesmo adverso sobre ela, ao roubar-lhe seu «eu» sem nada lhe oferecer em troca.
Além disso, enquanto a natureza estabeleceu entre os homens a mais ampla diversidade nos domínios moral e intelectual, a sociedade, não tomando conhecimento disso, iguala todos os seres ou, antes, coloca no lugar da diversidade as diferenças e degraus artificiais de classe e posição, com frequência diametralmente opostos à escala hierárquica da natureza.

Nesse arranjo, aqueles que a natureza situou em baixo encontram-se em óptima situação; os poucos, entretanto, que ela colocou em cima, saem em desvantagem. Como consequência, estes costumam esquivar-se da sociedade, na qual, ao tornar-se numerosa, a vulgaridade domina.

 

Arthur Schopenhauer, in “Aforismos para a Sabedoria de Vida”
Imagem: pintura de Jackson Pollock (EUA, 1912 – 1956).

 

 


domingo, 28 de junho de 2015

Os Pseudo-Sábios

 
 
 
 

 
Johann Wolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, Alemanha - Weimar - Alemanha, 1832).  

Dramaturgo, poeta e cientista é uma das maiores figuras literárias alemãs da era moderna.

 

 
Palavras de Johann Wolfgang von Goethe:

“Nada mais assustador que a ignorância em acção.”

 

 
Os Pseudo-Sábios

 
Os verdadeiros sábios perguntam como se comporta dada coisa em si mesma e na sua relação com outras coisas, sem se preocuparem com a utilidade, ou seja, com a aplicação no domínio do já conhecido ou no domínio daquilo que é necessário à vida.
Há outros espíritos, gente bastante diferente, que, sendo mais agudos, mais virados para a vida, mais experimentados e familiarizados com a técnica, tratam imediatamente de encontrar as aplicações.

Os pseudo-sábios procuram apenas retirar tão depressa quanto possível algum proveito pessoal das novas descobertas, tratando de obter uma glória vã, seja pela tentativa de dar continuidade ou alargamento à descoberta em causa, seja pela introdução de correcções, ou até por uma simples anexação pessoal, por exemplo, afectando grandes preocupações em relação ao assunto.
O carácter sempre prematuro desses comportamentos prejudica a verdadeira ciência, traz-lhe maior incerteza e confusão, e atrofia-lhe manifestamente aquilo que ela pode produzir de mais belo, isto é, o seu florescimento prático.

 

 
Johann Wolfgang von Goethe, in 'Máximas e Reflexões'
Imagem: pintura de Barbara Hepworth (Reino Unido, 1903 – 1975).

 

 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Lenda das Obras de Santa Engrácia

 
 
 
 
 
 
 
 

Lenda das Obras de Santa Engrácia



 
Simão Pires, um cristão-novo, cavalgava todos os dias até ao convento de Santa Clara para se encontrar às escondidas com Violante. A jovem tinha sido feita noviça à força por vontade do seu pai fidalgo que não estava de acordo com o seu amor.
Um dia, Simão pediu à sua amada para fugir com ele, dando-lhe um dia para decidir. No dia seguinte, Simão foi acordado pelos homens do rei que o vinham prender acusando-o do roubo das relíquias da igreja de Santa Engrácia que ficava perto do convento.
Para não prejudicar Violante, Simão não revelou a razão por que tinha sido visto no local. Apesar de invocar a sua inocência foi preso e condenado à morte na fogueira que se realizaria junto da nova igreja de Santa Engrácia, cujas obras já tinham começado.
Quando as labaredas envolveram o corpo de Simão, este gritou que era tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem. Os anos passaram e a freira Violante foi um dia chamada a assistir aos últimos momentos de um ladrão que tinha pedido a sua presença.
Revelou-lhe que tinha sido ele o ladrão das relíquias e sabendo da relação secreta dos jovens, tinha incriminado Simão.
Pedia-lhe agora o perdão que Violante lhe concedeu. Entretanto, um facto singular acontecia: as obras da igreja iniciadas à época da execução de Simão pareciam nunca mais ter fim. De tal forma que o povo se habitou a comparar tudo aquilo que não mais acaba às obras de Santa Engrácia.

 

 

 

MULHERES PIONEIRAS - ANA DE CASTRO OSÓRIO

 
 
 
 
 
 
 

Ana de Castro Osório (Mangualde, Portugal, 1872 – Setúbal, Portugal, 1935).

Jornalista e pedagoga foi, em Portugal, a pioneira da literatura infanto-juvenil, reformulando contos populares e criando histórias novas. Traduziu autores estrangeiros de literatura infantil.
Publicou uma obra importante na sua época, a colecção Para as Crianças, composta por 18 volumes, na qual trabalhou durante quarenta anos.
Viveu três anos em S. Paulo, Brasil, onde exerceu actividade docente e adaptou alguns dos seus livros para as escolas brasileiras.
Feminista convicta defendeu a educação e instrução das crianças e mulheres, a igualdade de direitos entre os dois sexos, a lei do divórcio, a independência económica feminina e o acesso da mulher a diversas profissões.
Dirigiu o “Grupo Português de Estudos Feministas”, criou a “Liga Republicana das Mulheres Portuguesas” e co-fundou a “Associação da Propaganda Feminista”, a primeira organização sufragista portuguesa.
Às Mulheres Portuguesas, colectânea de artigos sobre as várias questões femininas, Ana de Castro Osório alerta as mulheres para o trabalho e o estudo, que considera como “passo definitivo para a libertação feminina”.
 
 
Palavras de Ana de Castro Osório:
“Ser feminista é desejar que as mulheres sejam criaturas de inteligência e de razão.”
 

 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Gosto das Belas coisas Claras e Simples

 
 
 
 
 
 

Florbela Espanca (Vila Viçosa, Portugal, 1894 – Matosinhos, Portugal, 1930).

 

Palavras de Florbela Espanca:

“Para as traições, para as mentiras, para o que é vil e falso, tem a gente remédio: tem o orgulho; mas para a dor que te faz mal, para essa nenhum remédio há.”

 

Gosto das Belas coisas Claras e Simples

 

Para quê alcançar os astros?! Para quê?! Para os desfolhar, por exemplo, como grandes flores de luz! Vê-los, vê-os toda a gente. De que serve então ser poeta se se é igual à outra gente toda, ao rebanho?
Eu não peço à Vida nada que ela me não tivesse prometido, e detesto-a e desdenho-a porque não soube cumprir nem uma das suas promessas em que, ingenuamente, acreditei, porque me mentiu, porque me traiu sempre. Mas não choro, não, como os portugueses chorões, não tenho nada de Jeremias, pareço-me antes com Job, revoltado, gritando impreca­ções no seu monte de estrume.
Não gosto de lágrimas, de fados nem de guitarras, gosto das belas coisas claras e simples, das grandes ternuras perfeitas, das doces compreensões silenciosas, gosto de tudo, enfim, onde encontro um pouco de Beleza e de Verdade, de tudo menos do bípede humano, em geral, é claro, porque há ainda no mundo, graças a Deus, almas-astros onde eu gosto de me reflectir, almas de sinceridade e de pureza sobre as quais adoro debruçar a minha.

 

Florbela Espanca, in "Correspondência "

Imagem: pintura de Ethel Walker (Edimburgo, Escócia, Reino Unido, 1861 – Londres, Reino Unido, 1951).

 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Os Caminhos desapareceram da Alma Humana

 
 
 
 
 

Milan Kundera (República Checa, 1929).

Ficou especialmente conhecido por aquela que é considerada a sua obra-prima, A insustentável leveza do ser.

Roberto Calasso, editor de Kundera na Itália: Kundera é um dos poucos grandes escritores vivos. E quando digo poucos, quero dizer que dá para contá-los em uma só mão.”

 
 
Palavras de Milan Kundera:


 
Os Caminhos desapareceram da Alma Humana

 
Caminho: faixa de terra sobre a qual se anda a pé. A estrada distingue-se do caminho não só por ser percorrida de automóvel, mas também por ser uma simples linha ligando um ponto a outro. A estrada não tem em si própria qualquer sentido; só têm sentido os dois pontos que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço.
Cada trecho do caminho é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma desvalorização triunfal do espaço, que hoje não passa de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de tempo.

Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer.
E também a sua vida ele já não vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva.
O tempo de viver reduziu-se a um simples obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.

 
 
Milan Kundera, in "A Imortalidade"

Imagem: pintura de William Henry Maguire (Dublin, Irlanda, 1842 – 1924).

 

terça-feira, 23 de junho de 2015

É o Fim que confere o significado às Palavras

 
 





Samuel Beckett (Dublin, Irlanda, 1906 – Paris, França, 1989).

É um dos primeiros escritores pós-modernistas. Em 1969, recebeu o “Prémio Nobel de Literatura”.

 

Palavras de Samuel Beckett:
“Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.”

 

É o Fim que confere o significado às Palavras

Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo.
Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar.
Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca.
E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram.
Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.

 

Samuel Beckett, in 'Textos para Nada”
Imagem: pintura de George Frederic Watts (Reino Unido, 1817-1904).

 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

CONTOS TRADICIONAIS DO POVO PORTUGUÊS: A filha do lavrador

 
 
 
 

 
A filha do lavrador

 
Era uma vez um príncipe; todas as vezes que vinha lavar-se à varanda do seu quarto, via defronte a filha de um lavrador, que era muito linda. Ora naquele tempo a verdadeira nobreza era a dos lavradores, e por isso o príncipe falava para ela, e dizia:

– Deus vos salve, filha de lavrador.

 E ela respondia:

– E a vós, príncipe e real senhor.

Ele conversava para ela, e perguntou-lhe se não queria encontrar-se na grande feira do ano, que se fazia? Ela disse que não, mas pediu licença ao pai, foi adiante e meteu-se no quarto da estalagem onde havia de pernoitar o príncipe. Quando disseram ao príncipe que estava ali uma mulher, ele respondeu:

– É o mesmo.

Entrou para o quarto; viu uma moça muito linda, mas não a conheceu. Apagou a luz e ficaram toda a noite juntos. Pela manhã muito cedo ela arranjou-se para partir, e o príncipe perguntou-lhe o que é que ela queria em lembrança daquela noite; ela pediu-lhe a espada. O príncipe não teve remédio senão dar-lha. Passados dias, o príncipe fez os mesmos cumprimentos:

– Deus vos salve, filha de lavrador.

– E a vós também, real senhor.

– Então a menina não vai amanhã à romaria, para se encontrar lá comigo?

Ela disse que não, mas foi adiante e com tal jeito que ficou no lugar onde o príncipe tinha de dormir aquela noite. Ora já se tinha passado muito tempo, e a filha do lavrador tinha tido às escondidas um menino, que estava a criar e era o retrato do príncipe. Desta vez as coisas passaram-se como da outra, e quando foi pela manhã cedo, o príncipe disse-lhe que pedisse o que queria, e ela disse que só queria o cinto que ele usava.

Já se sabe, veio a ter outro menino. Foi ainda uma terceira vez convidada para um grande arraial, e ela lá se encontrou com o príncipe sem ele saber que era a filha do lavrador. Desta vez também lhe perguntou o que é que ela queria, e a moça pediu-lhe o relógio. Passado o tempo também teve uma menina, que pôs a criar com os outros dois filhos do príncipe.

Um dia disse ele:

– Filha de lavrador, vou-me casar. Não queres vir à minha boda?

Ela disse que não; mas no dia do casamento entrou pelo palácio dentro com os três meninos, um com a espada, outro com o cinto, e a menina com o relógio. Deixaram-na entrar, e ela foi para a mesa. O príncipe conheceu aquelas três prendas que dera, sem saber a quem, e viu que os meninos eram o seu retrato. No fim do jantar disse que cada um havia de contar a sua história, e que ele é que começaria. Disse então:

– Um dia um homem perdeu uma chave de ouro, e arranjou uma de prata para servir-se; mas aconteceu achar outra vez a chave que tinha perdido, e agora quero que os senhores me digam de qual delas se deve servir daqui em diante, da de ouro ou da de prata?

Disseram todos:

– Da chave de ouro! Da primeira.

O príncipe levantou-se, e foi buscar a filha do lavrador, que estava a um canto da mesa, e disse:

– A esta é que tomo por mulher; e estes infantes são os meus filhos, que eu tinha perdido.

A festa continuou muito alegre, e dali se foram a receber com grandes alegrias.

 

Contos Tradicionais do Povo Português por Teófilo Braga