quinta-feira, 30 de novembro de 2017

CATEDRAL DE S. BASÍLIO - Moscovo




CATEDRAL DE S. BASÍLIO

A vitória sobre os exércitos mongóis em Kazan em 1552 conquistou para a Rússia a liberdade do domínio tártaro e permitiu a Ivan IV autoproclamar-se czar da Rússia.

A Catedral de S. Basílio, que dá para a Praça Vermelha de Moscovo, foi construída para comemorar essa vitória. Desenhada pelos arquitectos russos Barma e Posnik, a catedral estabeleceu a tradicional igreja de «tenda e torre» como símbolo da unificação nacional e combinou as formas das igrejas do Norte, de madeira e com cúpula em forma de elmo, com o estilo decorativo das de tijolo e pedra do Sul.

A influência da arquitectura renascentista, importada através das ligações  comerciais com Veneza, contribuiu ainda mais para esse ecletismo.

A «tenda» central é uma igreja separada, dedicada a Nossa Senhora, e rodeada por oito capelas independentes , cada uma com a sua torre e cúpula em forma de cebola. S. Basílio, cujo nome se tornou sinónimo da catedral unificada, está enterrado numa capela adicional.

As fantasticamente ornamentadas cúpulas do feitio de cebolas e profusão de azulejos polícromos foram acrescentadas no fim do século XVII, criando a familiar silhueta a Moscovo e ao Kremlin.



in “Arquitectura” de Neil Stevenson
Imagem: foto de Vladitto

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL




CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL

Assim designado por se encontrar guardado na Biblioteca Nacional. É um apógrafo italiano, sendo adquirido pelo Governo português em 1924. Fora mandado copiar pelo humanista Ângelo Colocci (1474-1549), passando muito tempo depois para a posse do conde italiano Brancutti. Razão por que também aparece designado por «Cancioneiro Colocci-Brancutti». Contém 1597 canções, 1097 das quais fazem também parte do «Cancioneiro do Vaticano».

As canções ou poemas que enchem os três Cancioneiros, são todas cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas de escárnio e maldizer, e provêm de duas fontes de inspiração: as trovas provençais e o folclore e a tradição peninsulares.

Uma grande parte dos trovadores que fazem parte dos Cancioneiros, viveu nas cortes de D. Afonso III, D. Dinis e do filho bastardo deste, o conde de Barcelos, outra nas cortes de Fernando III e Afonso X, de Castela, e alguns deles, em sítios ignorados.

Entre os trovadores que fazem parte dos Cancioneiros medievais encontram-se os reis D. Sancho I e D. Dinis. Cabendo inclusivamente a este último monarca o grande mérito de ter sido ele que começou a abrir com a lírica trovadoresca os caminhos para o lirismo nacional


in “Dicionário da Literatura Portuguesa”


terça-feira, 28 de novembro de 2017

JÚLIO VERNE – Escritor




JÚLIO VERNE
(Nantes, França, 1828 - Amiens, 1905)

Escritor

Fugiu de casa com 11 anos para ser marinheiro. Localizado e recuperado, retornou ao lar paterno. Num furioso ataque de vergonha por sua breve e efémera aventura, jurou solenemente (para a sorte de seus milhões de leitores) não voltar a viajar senão na sua imaginação e através de sua fantasia. Promessa que manteve em mais de oitenta livros.

Influenciado pelas conquistas científicas e técnicas da época, decidiu criar uma literatura adaptada à idade científica, vertendo todos estes conhecimentos em relatos épicos, enaltecendo o génio e a fortaleza do homem em sua luta por dominar e transformar a natureza.

Publicou a primeira grande novela de sucesso em 1862, o relato de viagem à África em balão, intitulado Cinco semanas em um balão.

Nada mais justo, também, que o novo estilo literário inaugurado por Júlio Verne, fosse utilizado por uma nova arte que surgia: o cinema. Da Terra à Lua, (1902), 20.000 Léguas Submarinas(1907), Michael Strogoff (1910), foram alguns dos primeiros filmes baseados em suas obras.

A Volta ao Mundo em 80 dias foi filmado em 1956, com enredo milionário, dirigido por Michael Anderson, música de Victor Young.


in “Biblioteca Júlio Verne” (excertos)


***

Palavras de Júlio Verne
“Um dia visitaremos a Lua e os planetas com a mesma facilidade com que hoje se vai de Liverpool a Nova York.”



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

UMA GATA BORRALHEIRA MODERNA




UMA GATA BORRALHEIRA MODERNA

«Nenhuma publicidade prévia podia ter previsto o tremendo impacto que esta mulher de corte goyesco causaria num público mimado pelas delícias de Maria Callas e Joan Sutherland. Quando Caballé iniciou a sua primeira ária, houve uma mudança perceptível no ambiente. Pareceu por um momento que toda a gente tinha deixado de respirar.»

Assim se expressa a crónica de um jornal da cidade dos arranha-céus no dia seguinte ao da estreia da soprano espanhola Montserrat Caballé no Metropolitan de Nova Iorque. 

A particularidade do feliz acontecimento reside em que a soprano que devia actuar naquela noite não era a Caballé, mas a sua célebre colega american Marilyn Horne, a quem substituiu por indisposição desta. Interpretou um dos papéis mais exigentes do repertório: a protagonista de Lucrezia Borgia, de Donizetti. 

O brilho com que a soprano interpretou o papel foi o início de uma carreira internacional que neste mesmo ano, 1965, lhe permitiu apresentar-se em Glyndebourne e, depois, no La Scala e no Covent Garden.


in “Crónica da Música”

Imagem: Montserrat Caballé  (Foto: Reuters)

domingo, 26 de novembro de 2017

ALBANO MARTINS - Acontecimento




ALBANO MARTINS
(Fundão, Portugal, 1930)

Poeta

ACONTECIMENTO

Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
- riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.

Não sei se o mundo existia e nós existíamos, realmente.
Sei que tudo escava suspenso
esperando não sei que grave acontecimento
e que milhares de insectos paravam e zumbiam nos meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.

Depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida,
entrando devagar, muito devagar e acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti:
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.


sábado, 25 de novembro de 2017

ISADORA DUNCAN - Bailarina



ISADORA DUNCAN
(São Francisco, EUA,1877 – Nice, França - 1927)

Bailarina

Fundou, em Baireute, a sua primeira escola. Na Rússia, Fokine tornou-se seu admirador, o mesmo acontecendo com Léon Bakst e Nijinski. Paris recebeu-a, então, com estrondosos aplausos, tornando-se um dos seus ídolos. Montou um estúdio em Neuilly, criando ali um corpo de baile, para a interpretação das melhores obras musicais.

Isadora pretendeu dar ao bailado um sentido essencialmente humano. O seu trabalho muito influenciou as novas correntes modernas da estética coreográfica.

Há um livro da sua autoria, A Minha Vida (1927), traduzido em diversos idiomas, que tem especial interesse para o conhecimento das ideias estéticas de Isadora e da evolução do seu processo artístico.

Fundou escolas de dança clássica em Berlim, Nova Iorque e Moscovo.
Morreu em circunstâncias trágicas, em Nice.


in “Dicionário de Mulheres Célebres”

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

CARLO GOLDONI - Dramaturgo


CARLO GOLDONI
(Veneza, Itália, 1707 — Paris, França, 1793)

Dramaturgo

Foi o grande renovador da commedia dell´arte italiana, o poeta que retratou uma Veneza quotidiana e contemporânea. Escreveu cerca de 50 libretos, 9 de óperas sérias e mais de 50 óperas cómicas.

As suas principais colaborações neste género foram estabelecidas com V.Ciampi e depois com Galuppi.

Os seus libretos inspiraram também Hayden, que musicou, em 1768, a Lo speziale, e Mozart, que em 1769 musicou La finta semplice.
De 1762 até à sua morte viveu em França, onde publicou umas célebres Memórias (1787).


in “Auditorium”

***

Palavras de Carlo Goldoni
Se prestássemos atenção ao que os outros podem dizer de nós, perderíamos depressa toda a possibilidade de fazer bem.”


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

CASA-MUSEU FIALHO DE ALMEIDA




CASA-MUSEU FIALHO DE ALMEIDA

O escritor Fialho de Almeida nasceu em Vila de Frades em 1857. De configuração popular, a Casa desenvolve-se num único piso e pauta-se por uma enorme depuração arquitectónica.

Todavia, mais do que o interesse que pode apresentar no âmbito das tipologias da arquitectura popular, este imóvel reveste-se de particular importância pelo facto de ter sido habitado pelo escritor e por lhe ser associado todo um simbolismo relacionado com esta tão relevante figura da literatura portuguesa.

Tendo estudado em Lisboa desde os 15 anos, acabou por se formar em medicina, carreira que abandonou de imediato para se dedicar exclusivamente à literatura, com uma imensa produção realista, numa vertente caracterizada pela ironia e pessimismo.

A sua vasta obra ficou marcada pelos artigos dos jornais (entre 1889 e 1894) reunidas sob a designação "Os Gatos" e "Pasquinadas", entre outros. Os contos encontram a sua melhor expressão nos títulos "Contos" (1881) e "O País das Uvas" (1893) ou ainda na "cidade do Vício", de 1882.



in “Património Cultural” (excerto)

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

INGMAR BERGMAN – Dramaturgo e cineasta



INGMAR BERGMAN
(Suécia, 1918 - 2007)

Dramaturgo e cineasta

Estudou na Universidade de Estocolmo, onde se interessou por teatro e, mais tarde, por cinema. 

Discípulo de Victor Sjöström e de Mauritz Stiller, herdou de seus mestres o gosto pelo expressionismo poético, característica maior e melhor do cinema mudo sueco dos anos vinte. Ressuscita, assim, para o mundo, a cinematografia da Suécia e, a partir de 1950, perfeitamente senhor de si e de seu ofício , desenvolve uma temática de preocupações metafísicas. 

Estranho, requintado, apuradíssimo, o cinema de Ingmar Bergman singulariza-se muito mais pelo conteúdo do que pela forma, embora esta, fundamentando-se na melhor tradição fílmica, atinja por vezes uma beleza e uma perfeição raras.

Alguns dos seus filmes: Morangos Silvestres; Uma Lição de Amor; O Sétimo Selo; Sorrisos de uma Noite de Verão; O Ovo da Serpente; Fanny & Alexander; Persona; O Silêncio; A Flauta Mágica.


in”Enciclopédia de Cultura”

***
Palavras de Ingmar Bergman

“Nossas relações sociais são limitadas, a maioria do tempo, a fofocar e criticar o comportamento das pessoas. Esta observação lentamente empurrou-me para o isolamento da chamada vida social. Meus dias se passam na solidão.“



terça-feira, 21 de novembro de 2017

CÉSAR VALLEJO – Os passos distantes




CÉSAR VALLEJO
(Santiago de Chuco, Peru, 1892 – Paris, França, 1938).
Poeta
Foi um dos maiores poetas hispano-americanos do século XX.

***

OS PASSOS DISTANTES  
Meu pai repousa. Seu semblante augusto
semelha um aprazível coração;
parece-me tão puro...
se há nele algo de amargo, serei eu.

Há solidão em toda casa; rezam;
não há notícia de seus filhos hoje.
Meu pai desperta,  atenta os olhos
à fuga para o Egipto, o lancinante adeus.
Parece-me tão próximo;
se há nele algo distante, serei eu.

E minha mãe passeia nos jardins,
saboreando um sabor já sem sabor.
Parece-me tão suave,
tão asa, tão saída, tão amor.

Há solidão na casa silenciosa,
sem notícias, sem verde, sem infância.
E se algo há de quebrado nesta tarde,
que baixa e que se parte,
são dois velhos caminhos curvos, brancos.
Por eles vai meu coração a pé.

Tradução: Ivo Barroso.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

JOÃO CABRAL DE MELO NETO - Difícil ser Funcionário



JOÃO CABRAL DE MELO NETO
(Recife, Brasil, 1920 — Rio de Janeiro, 1999)

Poeta

DIFÍCIL SER FUNCIONÁRIO

Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.

Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.

É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.

Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.

Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança

Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu



Imagem:João Cabral de Melo Neto, por Homero Sérgio.


domingo, 19 de novembro de 2017

MARGRAVIAL OPERA HOUSE – Alemanha




MARGRAVIAL OPERA HOUSE


A Margravial Opera House é considerada uma obra-prima da arquitectura barroca de teatros do século XVIII. A decoração colorida e esplendorosa do interior da ópera é de tirar o fôlego do visitante. O mais belo teatro barroco conservado na Europa foi construído por Giuseppe Galli-Bibiena e seu filho Carlos de Bolonha, os mais famosos arquitectos de teatros da época.

O Ópera Margravial House foi adicionado à lista do Património Mundial da UNESCO em 2012.




sábado, 18 de novembro de 2017

JOÃO DE MELO - Poema encontrado por aí




JOÃO DE MELO
(Achadinha, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal, 1949)

Escritor e poeta

Licenciado em Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa em 1981, exerceu depois a actividade de director editorial e de crítico literário.
É autor de obras de ficção, antologias, poesias e ensaios.
Gente Feliz com Lágrimas, o seu romance mais conhecido, foi adaptado ao teatro pelo grupo “O Bando”, e a telefilme pelo realizador José Medeiros.

***

POEMA ENCONTRADO POR AÍ

Sento-me em Lisboa, nasce-me a dor
precisamente ao centro: sinto o eixo
rasgar-se em mim. E depois meu amor
desisto e pronto: há como que um desleixo
nisto de estar vivo - sentado à vida
e nada já aqui me pertencer.
Revejo-a ao longe atenta e comovida
conheço a casa, a rua, a mesa e o ser.
E o ser é uma longa desistência,
amor, o saber só nosso e secreto
de que para isto não há ciência
nem cura. Como um desejo concreto
de partir e não saber para onde,
assim a vontade é um abandono:
um não-estar aqui que em mim se esconde,
uma passagem entre a vigília e o sono.
Como hei-de chorar por ti se afinal
nada de mais belo há do que o modo
altivo de um rosto que além do mal
do amor e seus trabalhos acomodo
dentro de mim? Meu Deus como eu te amo
no pranto e na alegria! O pensamento
dói-se do que sente, o meu desengano
pensa a dor, o coração o sentimento.
Não me basta o elogio da amada.
Ela virá e eu todo em mim a cantarei.
Canto a menina, digo, a mulher sentada
no leito e aberta à flor que nela amei.
Senhora, ir do canto à eternidade
é o que mais desespera o trovador;
Para morrer por si não tenho idade,
mas como viver sem o seu amor?

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

SIBILA





SIBILA

Um grito surgiu na noite da Grécia Antiga
Não era um deus que gritava, era Ela.
Límpida como a água das fontes.
Pura como a terra.
O grito da Sibila
(O grito da mãe terra? Ou o grito
das mães da terra? Ou o grito
da tua ou da minha mãe?)
O deus nunca grita, faz gritar.


ANTÓNIO PINHEIRO GUIMARÃES (Porto, Portugal), poeta.
in Revista “Pirâmide” - 1959


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

FERNÃO MENDES PINTO – Escritor e explorador




FERNÃO MENDES PINTO
(Montemor-o-Velho, Portugal, 1510 - Almada, 1583)

Escritor, explorador e aventureiro

Veio muito cedo para Lisboa, servindo vários amos, até que, em 1537, consegue, após várias tentativas malogradas, embarcar para a Índia. Percorre os mares e as terras do Oriente, onde é protagonista das mais fantásticas peripécias durante vinte e um anos, no decurso dos quais foi treze vezes cativo e dezassete vendido como escravo. 

O seu temperamento aventureiro adapta-se a todas as situações: é comerciante, é pirata, é soldado e marinheiro, mas também embaixador. 

Entra como noviço para a Companhia de Jesus, impressionado com a vida de S. Francisco Xavier, a quem entrega uma grande soma para as suas missões no Japão, mas não chega a receber os votos definitivos e de novo se lança na aventura, ganhando e perdendo sucessivamente grandes fortunas. 

Com dois companheiros, Diogo Zeimoto e Simão Borralho, é dos primeiros Portugueses que chegam ao Japão.

Finalmente, em 1558, cansado da vida aventurosa e violenta, regressa pobre a Portugal, e fixa-se em Almada. Aí escreve o seu empolgante e humaníssimo livro, obra ímpar da nossa literatura, só editado trinta e um anos após a sua morte: a Peregrinação.




in “Selecta Literária”

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

DAVID MOURÃO-FERREIRA - Alvorada




DAVID MOURÃO-FERREIRA
(Lisboa,  Portugal, 1927 - 1996)

Escritor e poeta

ALVORADA

Era de novo um corpo! Alvorada sombria,
alvorada nefasta envolta nuns cabelos...
Eram negros e vivos. Quem sofria,
dentro de mim, e assim tremia
só de vê-los?

Eram negros; e vivos como chamas.
Brilhavam, azulados, sob a chuva.
Brilhavam, azulados, como escamas
de sereia sombria, sob a chuva...

Veio cedo de mais a trovoada:
o vento me lembrou
de quem eu sou.

- Alvorada infecunda!, abandonada
por quem a entreviu de uma sacada
mas que, logo a seguir, se retirou.


terça-feira, 14 de novembro de 2017

O LIVRO DAS CANÇÕES




O LIVRO DAS CANÇÕES


Al-Isbahani chamou à sua obra  O livro das canções pois baseou-a principalmente em 100 músicas, originalmente seleccionadas pelo renomado músico e cantor Ibrahim Al-Mosili, para serem cantadas por seus patronos, os califas Abássidas Harun Al-Rashid e Al-Wathiq.
Diz-se que Al-Isbahani levou 50 anos para completar o livro, antes dele dedicá-lo a Seif ud-Dawla, o emir de Alepo.

O livro é composto de três partes: uma selecção de músicas que Al-Mosili fez para seus patronos califas, histórias de califas e de seus familiares que compuseram as melodias da música, e outras músicas da própria selecção de Al-Isbahani.

O livro das canções é muitas vezes considerado a sua obra-prima. Inúmeras outras obras dele são conhecidas. A maioria delas descreve a vida social indulgente de sua época, uma escolha temática que levantou críticas consideráveis, especialmente de clérigos, alguns dos quais chegaram até a questionar o seu rigor académico e autenticidade.



AL-ISBAHANI (Isfahan, Irão, 897–967 d.C.), estudioso literário, poeta e genealogista.

in  “Biblioteca Digital Mundial” (excerto/adaptação)