A
MÃE DAS CRIANÇAS DO HOLOCAUSTO
O holocausto nazista expôs
os dois extremos do comportamento humano, a crueldade mais intensa e a
generosidade mais dadivosa. É a sensação que se tem com o livro A história de Irena Sendler - A Mãe das Crianças do Holocausto que
oferece uma ampla visão de alguns dos momentos mais dramáticos da Segunda
Guerra. Nele, a crueldade nazista se revela em todos os seus aspectos mais
ferozes, ao mesmo tempo em que emerge a grandeza de heróis que se arriscaram
para salvar os perseguidos.
É o caso da polonesa IRENA SENDLER, uma assistente social que se dedicou inteiramente a salvar os judeus
confinados no Gueto de Varsóvia e conseguiu, muitas vezes chegando aos limites
da sanidade, da fome e da própria vida, resgatar mais de duas mil crianças
condenadas à morte a pedido do próprio Hitler.
"As crianças estavam
vestidas com roupa de festa seguindo em grupos de quatro para a praça da morte.
Quem tinha o direito de dar uma sentença como aquela? Adolf Hitler: ele havia
condenado crianças, idosos e doentes judeus a serem mortos em câmaras de
gás", conta um dos depoimentos do livro."
"As ruas do Gueto
estavam repletas de crianças mendigando. Nós as víamos quando entrávamos lá e,
algumas horas depois, quando saíamos, com frequência elas já eram corpinhos
caídos no chão, cobertos com jornais", conta Irena, no livro.
Ela enfrentou a mais cruel
das dúvidas: separar os filhos de seus pais, com a consciência de que essa era
a única alternativa. Sabia que os judeus do gueto seriam, cedo ou tarde,
dizimados e dedicou-se, como outros heróis poloneses e católicos, a levar as
crianças, de bebés a adolescentes, para o lado "ariano" de Varsóvia,
dando-lhes abrigo, alimentação, educação e principalmente conforto emocional
junto a famílias católicas, orfanatos e conventos. Para isso, escondia-as em
caixas de papelão, armários e cestas com alimentos, testemunhando cenas de
desespero.
"Promete que o meu filho viverá?", era a pergunta que
ouvia nesse momento dramático de separação. Irena nunca prometeu nada, mas
todas as crianças que salvou sobreviveram à guerra.
O Gueto de Varsóvia chegou
a abrigar 380 mil judeus, confinados e destinados a morrer de fome e frio. Em
1942, ocorreu a Grande Acção, em que 300 mil desses judeus foram enviados a
Treblinka, o famoso campo de extermínio, de onde pouquíssimos voltaram com
vida. O restante permaneceu trabalhando como escravos para os alemães e - com a
certeza de que acabaria também sendo exterminado - promoveu o Levante do Gueto
de Varsóvia, quando tentaram resistir ao exército nazista.
Foi mais um gesto de
auto respeito e honra do que uma tentativa de sobrevivência. Depois do Levante,
o gueto foi destruído; algumas cenas desses momentos são retratadas com
razoável fidelidade no filme O Pianista, do realizador Roman Polanski, de 2002.
Irena Sendler testemunhou
tais momentos e lutou tenazmente na clandestinidade para salvar suas crianças, adoptando
o pseudónimo de Irmã Jolanta e operando por meio do Zegota, organização do
governo polonês exilado.
"A única forma da humanidade renascer é por meio
do amor omnipotente", disse ela à autora do livro. Acabou sendo presa,
torturada e condenada à morte por fuzilamento. Mas ela não podia morrer: era a
única que guardava o registo das crianças foragidas, com seus nomes verdadeiros
e falsos. Assim, num esforço desmedido, membros do Zegota conseguiram subornar
um oficial alemão para que ela fosse libertada.
Irena viveu na
clandestinidade até o fim da guerra, procurada incansavelmente pelo exército
nazista. Mas as crianças estavam salvas e foram, para sempre, suas filhas.
Em 2006 Irena foi
apresentada como candidata para o prémio Nobel da Paz pelo governo polaco.
IRENA
SENDLER (Varsóvia, Polónia, 1915 – 2007)
in “Planeta Sustentável -
Estante”