quarta-feira, 30 de outubro de 2013

POEMAS DE DESPEDIDA – (II)

 

Poema da Despedida

Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo. 


 
Mia Couto
Ilustração: pintora Gladiola Sotomayor, da Ilha de Porto Rico.                                  

 

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