sábado, 1 de fevereiro de 2014

Alberto Girri

 
 

 
Alberto Girri  (1919-1991) nasceu em Buenos Aires, Argentina.

 
Foi  poeta, tradutor e professor do ensino secundário.

Fez parte da geração dos anos 40.

Em 1946, publicou o seu primeiro livro intitulado “ Playa Sola”.

Colaborou no quinzenário “Correio Literário”, no suplemento literário de “La Nacion” e na revista “Sur”.

Escreveu mais de trinta livros de poesía e diversos livros de prosa.

Algumas das suas obras:Coronación de la espera”;Poesía de Observación”; “Poemas Elegidos”; “Quien habla no está muerto”; “Los Valores Diários”.

Traduziu poetas ingleses e americanos, tais como T.S. Eliot, Robert Frost , Wallace Stevens.

Recebeu inúmeros prémios, entre eles: “Primeiro Prémio Municipal de Poesia”, “Primeiro Prémio Nacional de Poesia”, “Faixa de Honra da Sociedade Argentina de Escritores”.

 

 Palavras de Alberto Girri:
 
Eu acho que uma coisa é o que o poeta pensa, ou julga pensar, e outra é o que o poema pensa.  Criado pelo poeta, o seu poema é um facto e um objeto novo, original e autónomo,  com seu próprio pensamento. Obviamente, nem é necessário compartilhar as ideias de um poema para que nos pareça  bom,  nem devemos culpar o autor pelas ideias  contidas no poema.”
 
 

 

O Desesperado

 

Deixem-no gritar
com seu penetrante odor
de pródigo rondando como um abutre
pelos pecados da omissão.

Deixemos,
que a conformidade oculta
é artigo de sua vigília
fixa no amor.

                 Que a paz, peste de paz,
                 estímulo de negócios
                 para que agonizemos na cama
                 e de sua permanência ninguém se arrependa,
                 é seu intolerável fuste.

Que o nosso gemido,
                 vicioso presente anquilosando
                 o resplendor do que somos,
                 impede reconhecer-nos
                 à imagem e semelhança.

Que o fundo de sua dívida
                 é núpcias com a imundície,
                 onde o vinho fino, a gota de água,
                 a rosa inchada de azeite,
                 uma herança, descem a chorar.

Que a caridade que obedecemos,
                 perjura resposta
                 á sua única, devoradora solidão,
                 desconfia das obras.

Deixem-no gritar, deixemos,
                 devotos pobremente sensíveis
                 da Segunda Pessoa
                 que por ele abrasa.

 
Alberto Girri
Tradução: António Miranda

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