sábado, 26 de julho de 2014

O FUTURO PERFEITO

 
 



O Futuro Perfeito

À minha neta Anica

A neta explora-me os dentes,
Penteia-me como quem carda.
Terra da sua experiência,
Meu rosto diverte-a, parda
Imagem dada à inocência.

Finjo que lhe como os dedos,
Fura-me os olhos cansados,
Intima aos meus próprios medos
Deixa-mos sossegados.

E tira, tira puxando
Coisas de mim, divertida.
Assim me vai transformando
Em tempo da sua vida.

 

Vitorino Nemésio, poeta e escritor português, in “O Verbo e a Morte”

Imagem: quadro do pintor suiço Albert Anker (1831-1910).                                              

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