segunda-feira, 14 de julho de 2014

POEMA MELANCÓLICO A NÃO SEI QUE MULHER

 
 


 
 
           Poema melancólico a não sei que mulher

 

Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.

Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...


Miguel Torga, in “Diário VII”

Imagem: quadro do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), precursor do expressionismo alemão.                

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