sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O sr. Eleutério

 
 
 
 
 
 

 
                                      O sr. Eleutério


“Quanto mais um homem mostra a sua incapacidade, tanto mais apto se torna para governar o seu país!
O que fará proceder o chefe do estado da maneira seguinte na apreciação dos homens:
 
O menino Eleutério fica reprovado no seu exame de francês. O poder moderador deita-lhe logo o olho.
 
O menino Eleutério, continuando a sua bela carreira política – fica reprovado no seu exame de história. O poder moderador agita-se e acena-lhe com um lenço branco.

O caloiro Eleutério fica reprovado no 1º ano da faculdade de direito. O poder moderador exulta e quer a todo o transe ter com ele umas falas.
O senhor Eleutério fica reprovado no 5º ano. O poder moderador não pode conter o júbilo e fá-lo ministro da justiça.

E a opinião aplaude.
Do modo que, se um homem pudesse apresentar-se ao chefe do estado com os seguintes documentos:

Espírito de tal modo bronco que nunca pôde aprender a somar;
Estupidez tão espessa que nunca pôde distinguir as letras do ABC;

Reprovações sucessivas em todas as matérias de todos os cursos;
O chefe do estado tomá-lo-ia pela mão, e dir-lhe-ia, sufocado em júbilo:

- Tu Marcellus eris! Tu serás presidente do conselho!

 

Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, escritores portugueses, in “As Farpas”.

 

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