sábado, 6 de setembro de 2014

Sobre o regaço

 
 
 
 
 
 
 

Sobre o regaço

 

Sobre o regaço tinha

o livro bem aberto;

tocavam em meu rosto

seus caracóis negros.

Não víamos as letras

nem um nem outro, creio;

mas guardávamos ambos

fundo silêncio.

Por quanto tempo? Nem então

pude sabê-lo.

Sei só que não se ouvia mais que o alento,

que apressado escapava

dos lábios secos.

Só sei que nos voltámos

os dois ao mesmo tempo,

os olhos encontraram-se

e ressoou um beijo.

 

Gustavo Adolfo Bécquer (Sevilha, 1836 – Madrid, 1870).

 

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