terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Eterna Canção

 
 
 
 
 



                             A Eterna Canção


Quando envelhecermos

E meus cabelos loiros tornarem-se cabelos brancos
no mês de maio, em um jardim ensolarado,
aqueceremos nossos velhos ossos trêmulos,
a primavera deixará nossos corações em festa.
Acreditaremos ainda sermos jovens apaixonados
e eu te sorrirei, inclinando a cabeça,
seremos um  adorável casal de velhotes
sentados, a nos contemplar com os olhos pequenos,
mas ainda ternos e brilhantes,
Quando tu estiveres velho e eu velha,
Quando os meus cabelos loiros tornarem-se brancos.



Sobre nosso velho banco, esverdeado pelo musgo,
conversaremos com uma alegria terna e tão doce,
as frases sempre a terminar com um beijo.
Quantas vezes já nos dizemos "Te Amo”?
Então com grande cuidado vamos contá-las.
Recordaremos mil coisas, até mesmo
das tolices ditas e dos pequenos nadas delicados.
Um raio descerá entre os nossos cabelos brancos
feito carícia doce, e rosa pousará.
Sobre o banco de outrora voltaremos a conversar.
E como cada dia te amo mais,


Hoje mais que ontem e bem menos que amanhã.
Que importarão então as rugas do rosto?
O meu amor será mais sério - e sereno.
Imagina que todas nossas lembranças se unem,
As minhas recordações serão também as tuas.
Estas recordações comuns cada vez mais nos envolvem
E sem cessar entre nós tecem outros laços.
É verdade, seremos velhos, muito velhos,
enfraquecidos pela idade,
mas mais forte a cada dia apertarei a tua mão,
Porque vê tu, cada dia eu te amo mais,
Hoje mais que ontem e bem menos que amanhã.



E deste querido amor que passa como um sonho,
Quero conservar tudo no fundo do meu coração,
Reter, se possível for, a impressão demasiado breve,
Para voltar a saborear mais tarde, com lentidão.
Escondo tudo o que dele vem como uma avarenta,
Acumulando as riquezas com ardor para os meus velhos dias,
Serei então rica de uma riqueza rara
Terei guardado todo o ouro dos meus jovens amores!
Assim deste passado de felicidade que termina,
Minha memória devolverá a doçura;
E deste querido amor que passa como um sonho,
Terei conservado tudo no fundo do meu coração.
Quando envelhecermos,
Quando os meus cabelos loiros se tornarem brancos.

 
 
 
Rosemond Gerard Rostang (Paris, França, 1871-1953), poetisa e dramaturga.

 

 



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