quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ernesto Sabato

 
 
 
 

Ernesto Sabato (1911-2011) nasceu em Rojas, Buenos Aires, Argentina.

Foi escritor, professor, poeta e pintor, considerado um dos maiores intelectuais argentinos do século XX.

Teve uma actividade empenhada na defesa dos direitos humanos. Presidiu, em 1983, à “Comissão Nacional sobre Desaparecimento de Pessoas”.

Em 1961, publicou Sobre Heróis e Tumbas, um dos melhores romances argentinos do século XX.

Em 1984, venceu o “Prémio Cervantes de Literatura”.

 

Palavras de Ernesto Sabato:   

"As modas são legítimas nas coisas menores, como o vestuário. No pensamento e na arte, são abomináveis."

 
                           Vertigem Civilizacional Desumana

 
“O homem não pode manter-se humano a esta velocidade, se viver como um autómato será aniquilado.

A serenidade, uma certa lentidão, é tão inseparável da vida do homem como a sucessão das estações é inseparável das plantas, ou do nascimento das crianças.

Estamos no caminho mas não a caminhar, estamos num veículo sobre o qual nos movemos incessantemente, como uma grande jangada ou como essas cidades satélites que dizem que haverá. E ninguém anda a passo de homem, por acaso algum de nós caminha devagar?

Mas a vertigem não está só no exterior, assimilámo-la na nossa mente que não pára de emitir imagens, como se também fizesse zapping; talvez a aceleração tenha chegado ao coração que já lateja num compasso de urgência para que tudo passe rapidamente e não permaneça.

Este destino comum é a grande oportunidade, mas quem se atreve a saltar para fora? Já nem sequer sabemos rezar porque perdemos o silêncio e também o grito.

Na vertigem tudo é temível e desaparece o diálogo entre as pessoas.

O que nos dizemos são mais números do que palavras, contém mais informação do que novidade.

A perda do diálogo afoga o compromisso que nasce entre as pessoas e que pode fazer do próprio medo um dinamismo que o vença e que lhes outorgue uma maior liberdade. Mas o grave problema é que nesta civilização doente não há só exploração e miséria, mas também uma correlativa miséria espiritual.

A grande maioria não quer a liberdade, teme-a. O medo é um sintoma do nosso tempo. A tal extremo que, se rasparmos um pouco a superfície, poderemos verificar o pânico que está subjacente nas pessoas que vivem sob a exigência do trabalho nas grandes cidades.

A exigência é tal que se vive automaticamente sem que um sim ou um não tenha precedido os actos.

 
Ernesto Sabato, in “Resistir”

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