domingo, 2 de novembro de 2014

A uma Rosa

 
 
 
 
 
 
 

       A uma Rosa

 


Como tens tão pouca vida?
Quem tão depressa te mata?
Flor do mais ilustre sangue,
Que deu de Vénus a planta?
Uma Aurora só que vives,
Flores te chamam Monarca:
Na mesma terra do império,
Que foi berço, tens a campa.
Lástima da tarde chamam
A ti doce mimo da alva,
Gentil pérola nascida
Entre concha de esmeralda.
Águia nos voos florentes
Estendes ao Sol as asas,
Mas quando os raios lhe logras,
Fénix em raios te abrazas.

 
 
 

Em quanto em verde clausura
Te fecha o botão as galas,
Para os logros, que desejas,
Te dão vida as esperanças.
Mas quando a púrpura bela
Te serve já de mortalha,
Sentido o Sol chora raios,
Buscando a morte nas águas.
De fermosura tão rica
Não sei quem foi o pirata
Tão atrevido, que rouba
A joia da madrugada.   
 
 
Frei Jerónimo Baía (Coimbra, Portugal, 1620 – Viana do Castelo, Portugal, 1688), poeta barroco, in Antologia Poética.
Imagem: pintura de Rob Hefferan (Manchester, Reino Unido, 1968).
 
 

 

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