quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Alberto Moravia

 
 
 




Alberto Moravia (1907-1990) nasceu em Roma, Itália.

Considerado um dos romancistas líderes do século XX, os seus romances exploram temas como a sexualidade, a alienação social e o existencialismo.

Escreveu sobre a sociedade europeia, que considerava hipócrita, hedonista e condescendente.

Foi autor de centenas de contos, tais como: A Casa de Praia das Sextas-feiras, Contos Romanos, Novos Contos Romanos.

Alguns dos seus livros foram adaptados para o cinema, entre os quais se destacam: O Desprezo, realizado por Jean Luc Godart e O Conformista, dirigido por Bernardo Bertolucci.

Foi presidente da Associação Internacional de Escritores.

 

Palavras de Alberto Moravia:

"Creio que a amizade é mais difícil e mais rara do que o amor. Por isso, há que salvá-la a todo o custo."



Excertos do conto de humor “O Peru de Natal”:


 
“No dia de Natal, quando o comerciante Policarpi-Cúrcio ouviu pelo telefone a mulher pedir-lhe que chegasse a casa pontualmente porque tinha peru, alegrou-se muito, visto que, com o passar dos anos, não lhe restara outra paixão a não ser a gula.

 
Imensa porém foi sua surpresa quando, ao chegar a casa por volta do meio-dia, encontrou o peru não na cozinha, enfiado no espeto e girando lentamente sobre um fogo de carvão, mas na sala de visitas.

 
O peru, vestido com elegância antiquada, com um paletó preto com debruns de seda, calças em tecido xadrez preto e branco e colete cinza com botões de osso, conversava com a filha de Cúrcio.

 
A surpresa de Cúrcio ao encontrar o peru numa atitude e num lugar tão insólitos foi tão grande que, após as apresentações, aproveitando um momento de silêncio, ele não pôde deixar de inclinar-se para frente e dizer com cortesia mas também com firmeza: "Com licença, senhor... não sei se estou enganado... mas... mas me parece que o seu lugar não deveria ser aqui... repito, não sei se estou enganado... mas... o seu lugar deveria ser... ia dizer "na panela", quando a mulher que, como ela mesma dizia, conhecia o seu rebanho, pisou-lhe no pé; e Cúrcio, que sabia por longa experiência o que significava aquele gesto, calou-se.

 
A mulher, então, fez-lhe um sinal e, arrastando-o para fora da sala, disse-lhe em voz baixa e excitada que, pelo amor de Deus, não estragasse tudo. O peru era nobre, rico e influente; enfim, um excelente partido; e já demonstrava um interesse particular e evidentíssimo por Roseta; por acaso, com seus estúpidos comentários, ele queria acabar com o casamento que estava quase para se concretizar? Cúrcio desculpou-se com a mulher e jurou que não abriria mais a boca.

 
Quanto ao peru, a pergunta do anfitrião desavisado teve apenas o efeito de fazê-lo pegar o monóculo e examinar o infeliz de cima a baixo. Logo depois voltou a conversar com a filha de Cúrcio. (…)

 
(…) Contudo, essa antipatia de Cúrcio era mais do que compensada pela enfatuação das duas mulheres, mãe e filha, pelo peru. A mulher de Cúrcio e Roseta ficavam simplesmente suspensas aos lábios, ou melhor, aos barbilhões do peru, que as fascinava com seus relatos incríveis de festas, divertimentos, viagens, sucessos mundanos.

 
A familiaridade respeitosa de um peru como aquele, que tinha intimidade com a alta sociedade, envaidecia a mãe.

 
Quanto a Roseta, ela enrubescia, empalidecia, tremia e dirigia ao peru olhares ora suplicantes, ora inflamados, ora lânguidos, ora assustados. (…)
 

 
Alberto Moravia, in Os cem melhores contos de humor da literatura universal”.


 

 

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