quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Para a minha mãe

 
 
 
 
 
 
               Para a minha mãe
 
        (reivindicação da beleza)


Ouve, à noite, como a seda se rasga
e a taça de chá cai ao chão, sem ruído,
como por magia,
tu que só tens palavras doces para os mortos
e levas um ramo de flores na mão
à espera da morte
que cai do seu corcel, ferida por um cavaleiro
que a prende com os seus lábios brilhantes
e chora pelas noites pensando que o amavas,
e diz: vem para o jardim, vê como as estrelas caem
e falemos em sossego para que ninguém nos ouça
vem, escuta-me , falemos de nossos móveis
tenho uma rosa tatuada na face e um bastão
com um punho em forma de pato
e dizem que chove por nós e que a neve é nossa
e agora que o poema expira,
como uma criança, te digo :
vem, eu fiz um diadema

(sai ao jardim e verás como a noite nos envolve)


Leopoldo María Panero (Madrid, Espanha, 1948 – Las Palmas, Espanha, 2014).

Tradução: Luís Costa

Imagem: pintura de Nikolai Rerich ( São Petersburgo, Leningrado, Rússia, 1874 – Punjab, Índia, 1947).

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