quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

LÍBANO - Kahlil Gibran : Ainda ontem pensava que não era

 
 
 
 
 
 
 
Kahlil Gibran (Líbano, 1883 - Nova Iorque, EUA, 1931).
 
O seu estilo rompeu com escola clássica, sendo o pioneiro de um novo movimento romântico na literatura árabe.
A sua principal obra literária, O Profeta, publicada em 1923, vendeu dezenas de milhões de cópias.
No Líbano, é celebrado como um herói literário.
 
 
Ainda ontem pensava que não era
 
 
Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.
 
Eles dizem-me no seu despertar:
" Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito."
 
E no meu sonho eu respondo-lhes:
"Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."
 
Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
"Quem és tu?"
 
 
Kahlil Gibran
 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

TANZÂNIA - Euphrase Kezilahabi : El destino del pueblo

 
 
 
 
 

Euphrase Kezilahabi (Tanzânia, 1944).

É poeta e romancista.

 
  El destino del pueblo

 
Cuando los árboles se mecen
El viento está silbando
Cuando se caen
Un huracán está pasando
Y la gente corre a sus casas.
Cuando caen los dictadores
Un tornado está soplando
La gente sale de sus casas.


Los dictadores hablan de democracia
Dios los creo y vió que eran buenos.
Y descansó.
Para dejar al pueblo manejar su destino en la tierra.

 
Euphrase Kezilahabi
Tradução: Raúl Jaime


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

GUINÉ EQUATORIAL - Donato Ndongo-Bidyogo : Cântico

 
 
 
 
 
 

Donato Ndongo-Bidyogo (Guiné Equatorial, 1950).

É um dos grandes nomes da literatura do seu país. Tem numerosas obras sobre temas históricos, culturais e políticos.

 

      Cântico

 
Yo no quiero ser poeta
para cantar a África.
Yo no quiero ser poeta
para glosar lo negro.
Yo no quiero ser poeta así.

El poeta no es cantor de bellezas.
El poeta no luce la brillante piel negra.
El poeta, este poeta no tiene voz
para andares ondulantes de hermosas damas
de pelos rizados y caderas redondas.

El poeta llora su tierra
inmensa y pequeña
dura y frágil
luminosa y oscura
rica y pobre.


Este poeta tiene su mano atada

a las cadenas que atan a su gente.
Este poeta no siente nostalgia
de glorias pasadas.
Yo no canto al sexo exultante
que huele a jardín de rosas.
Yo no adoro labios gruesos
que saben a mango fresco.
Yo pienso en la mujer encorvada
bajo su cesto cargado de leña
con un niño chupando la teta vacía.
Yo describo la triste historia
de un mundo poblado de blancos
negros
rojos
y amarillos
que saltan de charca en charca
sin hablarse ni mirarse.

El poeta llora a los muertos
que matan manos negras
en nombre de la Negritud.
Yo canto con mi Pueblo
una vida pasada bajo el cacaotero
para que ellos merienden cho-co-la-te.
 
Si su pueblo está triste,
el poeta está triste.
Yo no soy poeta por voluntad divina.
El poeta es poeta por voluntad humana.

Yo no quiero la poesia
que sólo deleita los oídos de los poetas.
Yo no quiero la poesia
que se lee en noches de vino tinto
y mujeres embelesadas.
Poesía, sí.
Poetas, sí.
Pero que sepan lo que es el hombre
y por qué sufre el hombre
y por qué gime el hombre.


Donato Ndongo-Bidyogo
 
 

 
 

 
 
 

domingo, 28 de dezembro de 2014

COSTA DO MARFIM - Bernard Binlin Dadié : Aos Poetas

 
 
 
 
 
Bernard Binlin Dadié (Costa do Marfim, 1916).
 
É poeta, romancista e dramaturgo.


 
 
    Aos poetas

Pescadores de auroras
Quebradores de correntes
Dentro da noite,
Que fazem colheita de estrelas
Velhos paladinos
A correr mundo.

Minha terra geme todo tipo de murmúrios
Meu céu ronca com todos os gritos sufocados.

Tenho dor nas quinas
Da minha gaiola
No meu silêncio de ferro
De tempestade.

Pescadores de auroras
Que fazem colheita de estrelas
Façam-no Dia ao meu redor
O dia ao redor dos meus.


Bernard Binlin Dadié
Tradução: Leo Gonçalves            

 

 
 

sábado, 27 de dezembro de 2014

PALESTINA - Fadwa Touqan : Parto

 
 
 
 
 

Fadwa Touqan (Palestina, 1917 - 2003).

 

É considerada uma das figuras mais distintas da literatura moderna árabe. É, também, um dos símbolos da causa palestina e uma das vozes mais respeitadas em defesa do seu povo e dos seus direitos.

 

 
          Parto

 

O vento arrasta o pólen,
e nossa terra se sacode de noite
nos tremores do parto.
E o verdugo se engana a si mesmo,
contando-se a história da incapacidade,
a história da ruína e dos escombros.
Jovem manhã nossa!... Conta tu ao verdugo
como são os tremores do parto;
conta como nascem as margaridas
da dor da terra,
e como se levanta a manhã
do cravo de sangue nas feridas.

 

Fadwa Touqan

 

 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

SUDÃO - Al-Saddiq Al-Raddi : Cancion

 
 
 

Al-Saddiq Al-Raddi (Sudão, 1969).

É um dos principais poetas africanos que escreve em árabe. A sua poesia é rica na diversidade cultural e linguística do Sudão e da sua complexa história.

 
                Cancion

 
Baja el rostro ante la tormenta de arena
arropado en su manto
y con un sombrero que le impide desvanecerse


escuálido
contempla el horizonte,
recogiendo flores
hasta que lo viste

(... clavado en este callejón
entre montañas de basura
anhela alzar el pico
desplegar sus alas
y arrancar el vuelo...)


 
Al-Saddiq Al-Raddi
Tradução: Dídac P. Lagarriga
 
 

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

COLÔMBIA - Rogélio Echavarría : A Felicidade

 
 
 
 
 

Rogélio Echavarría (Santa Rosa de Osos, Colômbia, 1926).
É poeta, jornalista e membro da Academia Colombiana da Língua.

 

          A Felicidade

Há miríades de seres no universo que são felizes – e não te conhecem.
Milhões de pessoas na Terra
são felizes sem te amar.
E alguns que te amaram
desfrutam de um feliz esquecimento.

Porquê, então, sou eu o único homem
para quem tu és toda a felicidade do mundo?

 

Rogélio Echavarría

Tradução: Nuno Júdice

 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

BURKINA FASO - Frédéric Pacéré Titinga: Hay niños

 
 
 
 
 

Frédéric Pacéré Titing(Burkina Faso, 1943).
 
É poeta, novelista e ensaísta, precursor da luta pelos Direitos Humanos.

 
 
Hay niños

 
Hay niños,

Que viven sobre la tierra pero sin tierra;
Excluidos, siguen los caminos férreos;

Hay niños,
De un mundo sin alma y de un mundo sin padre;
Éticas, como los arbustos de los desiertos;

Hay niños,
Con la mirada interrogando la ausencia;
Ignoran la fiesta, el ritmo, la danza;

Hay niños,
Inocentes en los bordes de los senderos;
No tienen siquiera deseos de mendigar;

Hay niños,
Que han perdido la fuerza de llorar;
Sin sueño, aprenden a caminar;

Hay niños,
Círculos viciosos; cadenas y mordaza;
Comisaría; Justicia-Prisión,

Hay niños,
Que mueren en la vida, nacidos en la muerte;
Tienen sed de todo, incluso de la muerte.

 
Frédéric Pacéré Titing

 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

CHILE - Vicente Huidobro :Arte Poética

 
 
 
 
 

Vicente Huidobro (Santiago, Chile, 1893 – Cartagena, Chile, 1947).

 
Criou os seus princípios estéticos e, em 1918, fundou, em Madrid, um grupo denominado “Criacionista” dedicado aos poetas que produzissem textos que respeitassem o seu estilo.                                  

 

            Arte Poética

 

Que o verso seja como uma chave
Que abra mil portas.
Uma folha cai; algo passa voando;
Quanto fitem os olhos criado seja,
E a alma de quem ouve fique tremendo.

Inventa mundos novos e cultiva a palavra;
O adjetivo, quando não dá vida, mata.

Estamos no ciclo dos nervos.
O músculo pende,
Como lembrança, nos museus;
Mas nem por isso temos menos força:
O vigor verdadeiro
Reside na cabeça.

Por que cantais a rosa, ó Poetas!
Fazei-a florescer no poema.


Somente para nós
Vivem as coisas sob o sol.

O Poeta é um pequeno deus.

 
 
Vicente Huidobro
Tradução: Anderson Braga Horta.       

 

 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

MOÇAMBIQUE - José Craveirinha : Quero Ser Tambor

 
 
 
 
 
 
 
 

José Craveirinha (Lourenço Marques, Moçambique, 1922 – Maputo, Moçambique, 2003).

É considerado o maior poeta de Moçambique.

 
   Quero Ser Tambor

 
Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor
!



José Craveirinha

 

 

domingo, 21 de dezembro de 2014

BAHREIN - Qassim Haddad : Todos

 
 




Qassim Haddad (Bahrein, 1948) é poeta e escritor.
Foi membro fundador da Associação de Escritores de Bahrein.

 
     Todos

Todos dijeron
Que eso no valía la pena
Todos dijeron
Que yo intentaba apoyarme
Sobre el polvo del sol
Y que la amada
Enfrente – junto al árbol contra el cual
Yo me mantenía en pie
Era inalcanzable
Todos dijeron
Que esta montaña de sal
No me daría un solo vaso de vino
Todos dijeron
Que era imposible danzar sobre un solo pie
Todos dijeron
Que la noche transcurriría sin luces
Todos dijeron
Y todos vinieron a la fiesta.

 
 
Qassim Haddad
Tradução: Rafael Patiño