segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

JOSÉ-AUGUSTO FRANÇA – Estátua de D. Sebastião, em Lagos, Algarve, Portugal.

 
 
 
 
 
 
José-Augusto França (Tomar, Portugal, 1922), historiador, crítico de arte, escritor, professor catedrático e sociólogo é autor de inúmeras obras sobre arte plásticas e alguns livros de ficção.
 
Dedicou-se, em particular, à crítica e história da arte em Portugal.
É um dos fundadores do primeiro mestrado de História da Arte em Portugal.
Esteve na origem do Grupo Surrealista de Lisboa.
 
 
Palavras de José-Augusto França: “A cultura dos povos ficou nos velhinhos que restam nas aldeias.”
 
 
Excertos do texto crítico de José-Augusto França sobre a estátua “D. Sebastião” de João Cutileiro, em Lagos:
 
 
"Ao longo dos meses, em visitas ao atelier de João Cutileiro, fui vendo crescer e formar-se a estátua de D. Sebastião que está agora em Lagos.
 
(…) A data da inauguração (que, não sei porquê, os jornais não noticiaram) chegou - e a estátua apareceu, com aplauso de uns, dúvidas de outros, e inevitáveis movimentos de horrificada sandice. A estátua apareceu e ali está, honrando a pracinha de Lagos como um dos melhores monumentos portugueses, por razões políticas e intelectuais também.
 
Depois do malfadado monumento projectado para Sagres por João Andresen, Barata Feyo e Júlio Resende, o monumento de D. Sebastião, por João Cutileiro, é uma admirável obra de arte. Impar em Portugal - e não só em Portugal - no meio de uma estatuária comemorativa que, ratificada hoje em dia pela Europa fora, dificilmente encontra soluções iconográficas não académicas, dentro de programas figurativos.
 
(…) O D. Sebastião, por seu lado, não se sabe bem o que seja: lição de portucalidade, ou de sonho, ou de saudade. Tal (aliás) como o poeta que o cantou, lhe dedicou o poema da Pátria já finda - e lhe chamou, dela, «bem-nascida segurança», que pateticamente não poderia ser, com tantos ventos da história a soprarem. D. Sebastião fez de Lagos uma cidade e de lá partiu com a frota da sua perdição.
 
Quatrocentos anos depois do primeiro facto, e trezentos e noventa e cinco anos após o segundo, a estátua ergueu-se na simpática praça do Município. E tal como a fui vendo, até a ver acabada, é uma excelente e extraordinária peça de escultura.
 
Na sequência de imagens de rotina, que pouquíssimos rasgos de verdadeira escultura interromperam, aqui, e além, a estátua de «D. Sebastião» constitui uma ruptura escandalosa. Não, decerto, definitiva, que o «espírito de encomenda» não se modifica assim, e o bronze académico-modernista continuará a correr, a pé ou, mais dispendiosamente, a cavalo, por essas praças do País, mas já com o anúncio da possibilidade de outra coisa, em matéria de monumento iconográfico. E não só em Portugal. (…) "
 
 
José-Augusto França
 
                                                   
                                                                           Estátua de D. Sebastião

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