sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

CANCIONEIRO POPULAR – Amores - Trago o sentido perdido

 
 
 
 
 
 

AMORES

 

 

Trago o sentido perdido

Desde o dia em que te vi:

Se durmo, sonho contigo,

Se acordo, só penso em ti.

 

Apalpei meu lado esquerdo

Não achei meu coração,

De repente me lembrei

Que estava na tua mão.

                  

À tua porta, menina,

‘stá um fio de algodão;

Todos passam, não se prendem,

Só eu fiquei na prisão!

 

Tenho cravos, tenho rosas,

Manjericões a nascer;

Tenho-te tanto amor

Que to não posso dize

 
 
Maria, minha Maria.

Maria, meu ai-Jesus,

No dia que te não vejo

Nem a candeia dá luz!

                  

Triste sou, triste me vejo

Sem a tua companhia,

Tão triste, que nem me lembro

Se alegre fui algum dia.

                  

À oliveira da serra

O vento leva a felor

Só a mim ninguém me leva

Para o pé do meu amor!

                  

Quando vou à sua rua

E não vejo o meu amor,

E como se fora ao Céu

Sem ver a Nosso Senhor.

                  

Tenho dentro do meu peito

Um cravo branco dourado,

Salpicado de águas tristes,

Que por ti tenho chorado.

                  

A folha da oliveira

Em chegando ao lume estala;

Assim é meu coração

Quando contigo não fala.

                  

Menina, que está à janela,

Com a sua mão no rosto,

Quem me dera ser a causa

Das penas do seu desgosto!

                  

Aperta-me a minha mão,

Que é um sinal encoberto;

Antes que o mundo murmure

Ninguém o sabe de certo.
 
 
 
 
 
Cancioneiro Popular Português – Antologia organizada pela professora Maria Arminda Zaluar Nunes.
Imagem: pintura de Mário Eloy (Lisboa, Portugal, 1900 – 1951).
 

 

 


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