terça-feira, 16 de junho de 2015

A Cultura deve ser uma descoberta individual de cada um de nós

 
 
 
 
 

Marguerite Duras (GianDinh, Indochina, 1914 – Paris, França, 1996).
Passou a sua infância e grande parte da adolescência na Cochinchina, resultando daí ter escrito um livro admirável sobre a vida oriental: En Barrage contre le Pacifique.

 
 
Palavras de Marguerite Duras:

Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem ruído.”

 
 
A Cultura deve ser uma descoberta individual de cada um de nós

 
Não se deve intervir, não nos devemos meter nos problemas que cada um tem com a leitura. Não devemos sofrer por causa das crianças que não lêem, perder a paciência. Trata-se da descoberta do continente da leitura.
Ninguém deve encorajar nem incitar outra pessoa a ir ver como ele é. Já existe excessiva informação no mundo acerca da cultura. Devemos partir sós para esse continente. Descobri-lo sozinhos. Operarmos sozinhos esse nascimento.
Por exemplo, em relação a Baudelaire, devemos ser os primeiros a descobrir o seu esplendor. E somos os primeiros. E, se não formos os primeiros, nunca seremos leitores de Baudelaire.
Todas as obras-primas do mundo deveriam ser encontradas pelas crianças nos despejos públicos, e lidas às escondidas dos pais e dos mestres.

Por vezes, o facto de se ver alguém a ler um livro no metro, com grande atenção, pode provocar a compra desse livro. Mas não quanto aos romances populares. Aí, ninguém se engana quanto à natureza do livro. Os dois géneros nunca estão juntos nas mesmas mãos.
Os romances populares são impressos em milhões de exemplares. Com a mesma grelha aplicada, em princípio, há uns cinquenta anos, os romances populares desempenham a sua função de identificação sentimental ou erótica.
Depois de os terem lido, as pessoas abandonam-nos nos bancos públicos, no metro, e serão apanhados por outras pessoas e novamente lidos. Isso será ler?
Sim, penso que sim, é ler como se toma um remédio, mas é ler, é ir buscar a leitura ao exterior de si próprio e ingeri-la e fazê-la sua e dormir e cair no sono para, no dia seguinte, ir trabalhar, juntar-se a milhões de outras pessoas, a solidão matricular, o esmagamento.

 
Marguerite Duras, in "Mundo Exterior "

Imagem: pintura de Carel Victor Morlais Weight (Londres, Inglaterra, 1908 – 1997)

 

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