sexta-feira, 25 de setembro de 2015

JORGE LUIS BORGES - Os Justos

 
 
 
 
 
 

Jorge Luis Borges (Buenos Aires, Argentina, 1899 – Genebra, Suiça, 1986).

Poeta, escritor, crítico literário, ensaísta e tradutor renovou a linguagem de ficção e, assim, abriu o caminho para uma geração de romancistas hispano-americanos.

Luis Borges possuía uma imaginação criadora e dominava a expressão verbal e metafórica de forma única que lhe garantiu uma posição destacada na literatura de língua espanhola.

 

 
Palavras de Jorge Luis Borges:

"Publicamos para não passar a vida a corrigir rascunhos. Quer dizer, a gente publica um livro para livrar-se dele."

 
 
                                     Os Justos

 
Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.

O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.

O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.

 
 
Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução: Fernando Pinto do Amaral
Imagem: pintura de Julie Daniels

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário