domingo, 18 de outubro de 2015

JONATHAN SWIFT - Uma modesta proposta

 
 
 
 
 
 
Jonathan Swift (Dublin, Irlanda, 1667 – 1745).

 
Foi poeta e escritor satírico.
Ingressou no clero anglicano e tomou parte em lutas religiosas, políticas e literárias.

A sua obra é vastíssima, entre textos de intervenção, sátiras, ficção e poemas.
Notabilizou-se, contudo, com sua obra-prima, As Viagens de Gulliver, publicada em 1726, sátira implacável não só da sociedade inglesa do seu tempo, mas de todo o mundo civilizado. É uma história intemporal da mesquinhez da política, das pessoas e dos jogos de poder.

 
Palavras de Jonathan Swift:

“Quando um verdadeiro génio se mostra ao mundo reconhece-se logo da seguinte maneira: todos os idiotas se juntam e conspiram contra ele.”

 
 
 
Uma modesta proposta – texto satírico (excertos):

 

Para impedir que os filhos das pessoas pobres da Irlanda sejam um fardo para os seus progenitores ou para o país, e para torná-los proveitosos ao interesse público.

 

É motivo de tristeza, para aqueles que andam por esta grande cidade, ou viajam pelo país, verem as ruas, as estradas ou as portas dos barracos apinhados de mendigos do sexo feminino, seguidos por três, quatro ou seis crianças, todas esfarrapadas, a importunar os passantes com solicitações de donativos.
Essas mães, em vez de poderem trabalhar pelo seu honesto sustento, são forçadas a perambular o tempo todo atrás de esmolas a fim sustentar os seus pequenos desvalidos, os quais, à medida que crescem, se tornam ladrões, por falta de trabalho, ou deixam sua terra natal para lutar pelo Pretendente na Espanha ou se vendem para ir às Barbados.
Creio que todos os partidos concordam em que esse número prodigioso de crianças nos braços, ou nas costas, ou mesmo nos calcanhares de suas mães, e frequentemente nos de seus pais, é no presente estado deplorável do reino um grande transtorno adicional; de modo que quem quer que encontre um método razoável, barato e fácil de transformar tais crianças em membros saudáveis e úteis da comunidade não mereceria menos do público do que uma estátua erguida em sua homenagem, aclamando-o como benfeitor da nação.

(…) Agora, pois, proporei humildemente minhas próprias ideias, as quais acredito não serão suscetíveis da menor objeção.
 
Um americano muito experiente, conhecido meu, me disse em Londres que uma criança nova, saudável e bem nutrida é, com a idade de um ano, um petisco bastante delicioso e salutar, seja servido ensopado, assado, grelhado ou cozido; e não tenho dúvida de que poderá ser preparada como um fricassê ou um ragu.
 
(…)  Asseguro, com toda a sinceridade do coração, que não tenho o menor interesse pessoal em empreender a promoção desta obra necessária, não me movendo também nenhum outro motivo que o bem público de meu país, no desenvolvimento do comércio, na manutenção das crianças, no desencargo dos pobres, e no proporcionar alguma satisfação aos mais ricos. Não tenho filhos com os quais pudesse angariar nenhum tostão, sendo que o mais velho dos meus já fez nove anos, e minha esposa passou da idade de gerar.
 

Jonathan Swift
Imagem: pintura de Henri Matisse (França, 1869 – 1954)

 


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