quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

ANTÓNIO BARBOSA BACELAR – A uma ausência

 
 
 
 
 
 

António Barbosa Bacelar (Lisboa, Portugal, 1610 – 1663).

A sua obra poética está principalmente publicada no Cancioneiro seiscentista português Fénix Renascida.

 

                      A uma ausência

 
Sinto-me  sem sentir todo abrasado

No rigoroso fogo, que me alenta,

O mal, que me consome, me sustenta,

O bem, que me entretém, me dá cuidado:

Ando sem me mover, falo calado,

O que mais perto vejo, se me ausenta,

E o que estou sem ver, mais me atormenta,

Alegro-me de ver-me atormentado:

Choro no mesmo ponto, em que me rio,

No mor risco me anima a confiança,

Do que menos se espera estou mais certo;

Mas se de confiado desconfio,

É porque entre os receios da mudança

Ando perdido em mim, como em deserto.

 

 

        António Barbosa Bacelar, in “Fénix Renascida”

 

 

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