terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

PAUL CELAN – De todas as feridas






Paul Celan (Cernăuţi, (antiga Roménia, hoje Ucrânia) 1920 – Paris, França,1970).

Foi poeta, ensaísta e tradutor.

Em 1942, os seus pais, judeus de origem alemã, são deportados para um campo de concentração. O seu pai morre de tifo, a sua mãe é assassinada.

Celan passa por vários campos de concentração romenos, onde é obrigado a trabalhos forçados.
É considerado um dos maiores poetas da poesia alemã do pós-guerra.




Palavras de Paul Celan:
“A realidade não está simplesmente ali, deve ser investigada e conquistada.”




             De todas as feridas


Lança-me aos pés do coração a luva do silêncio:
Só uma vez no Outono a pedra reverdece - foi ontem;
foi quando o sal nas ruas era tão vermelho,
tão vermelho que se pensaria que era chegada a hora
a que se acena com os véus da meia-noite:
o tempo-de-tulipas dessa hora
em que o desejo enche o copo de toda a gente,
o berço e o caixão de toda a gente,
as pegadas de toda a gente -
a hora que liberta do gelo o teu olhar,
te faz arregaçar a tua sombra
e arranca aos sinos o seu silêncio quando danças.

Lança-me aos pés do coração a luva do silêncio:
foi ontem
e jaz no sangue com nós dois


Paul Celan, in “A Morte É Uma Flor”

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