HOMENAGEM A RAPHAEL BORDALLO PINHEIRO

Homenagem a RAPHAEL BORDALLO PINHEIRO

A Associação dos Jornalistas endereçou a todos os que na literatura, na música, na pintura, no desenho, a todos enfim que tem evidenciado graphicamente o seu valor, aos mais altos e aos mais modestos artistas portugueses, um convite para que deixassem numa folha de album, uma impressão sobre Bordallo. 

Correu tempo, muito tempo, e dia a dia chegavam à Associação dezenas de collaboradores. 

É esse álbum, para que Teixeira Lopes, o grande esculptor da nossa época, prepara a capa, que a Associação dos Jornalistas entrega hoje em sessão solemne a Raphael Bordallo.

D´esta fórma a Associação dos Jornalistas póde hoje ufanar-se de contar um dos mais gloriosos dias da sua gloriosa existencia na homenagem que, nas salas do Diario de Noticias, consagra hoje a Raphael Bordallo Pinheiro.

Uma folha do Album Raphael Bordallo

(folha escrita pelo Director do Diario de Noticias, Alfredo da Cunha)

Raphael! Neste reino á beira-mar plantado

O teu lapis val mais de que um poder do Estado!

A justiça vieux-jeu pune á maneira antiga

com os ferros d´El-rei. O teu lápis castiga

Rindo e fazendo rir, e a pena é mais tremenda!

Themis empunha espadae põe nos olhos venda;

Tu, com lápis, papel e um monoculo apenas,

Sentenceias melhor – muito melhor condemnas.

Uma pagina tua é um livro de critica.

E a tua mão, que dá grandeza apocalytica

Ao barro que hoje é Christo e amanhã Vctor Hugo,

Ora traduz o odio em Cesar – o verdugo

E traduz o rancor em Caiphaz – a hyena,

Ora faz palpitar o amor em Magdalena

E dando alma e paixão á estatua inerte e fria,

Enche de graça e luz a imagem de Maria!

E ha também para ti, Bordallo,um monopólio,

Como ha para o tabaco, o phosphoro e o petroleo

- Da ironia subtil pertence-te o exclusivo,

Ora neste paiz bisonho e pensativo,

Em que a tua Parodia escandalisa e assombra

Como um jorro de sol no escuro duma alfombra,

Em que é tão claro o céo e tão sombria a raça,

A melhor hygiene é a mais fina graça.

O rir bem é talento; o fazer rir – virtude.

Para a alma a alegria é força e é saúde

E ella só dá vigor ao espirito doente

Como á flor estiolada a restea de sol quente

Que a retinge de cor e a seiva lhe acelera.

Para a alma a alegria é uma primavera!

E porque o Riso está onde quer que tu estejas,

Genio do Bom-Humor, glorificado sejas!

                                                  

                                                 Alfredo da Cunha

Esta notícia foi publicada no jornal “Diário de Notícias”nº 13.477 – 39º ano – 1903, no dia 6 de Junho, sábado.

Preço: número avulso:10 réis