quarta-feira, 20 de abril de 2016

BORIS PASTERNAK - Verão na Cidade





Boris Pasternak (Moscovo, Rússia, 1890 -1960).

Poeta e romancista, foi galardoado com o “Prémio Nobel de Literatura” em 1958, depois de ter publicado clandestinamente o romance Doutor Jivago em Itália, em 1957.

Trabalhou numa fábrica de produtos químicos nos Urais, o que lhe proporcionou obter matéria para esse romance – uma tragédia sobre o último período da Rússia czarista e os primeiros dias da União Soviética.

Algumas das suas obras poéticas: Gémeos nas Nuvens, Temas e Variações, Minha Irmã, Vida, Quando o Tempo Melhorar.



Palavras de Boris Pasternak:

“Os detentores do poder ficam tão ansiosos por estabelecer o mito da sua infalibilidade, que se esforçam ao máximo para ignorar a verdade.”



  Verão na Cidade


Conversas a meia voz,
E esse gesto impetuoso
Com que afastas os cabelos
De cima do teu pescoço.

E sob o brilho do pente
É que aparece o olhar,
Debaixo do capacete
Dos cabelos ondulados.


A noite quente, lá fora,
Faz prever um aguaceiro.
Dispersam-se os caminhantes,
Matraqueando os passeios.

Do estrondo da trovoada
Ouve-se rolar o eco.
E o vento faz ondular
As cortinas da janela.

Vem a seguir o silêncio
Mas sufoca-se, e não cessa,
Intermitente, a presença
Dos relâmpagos no céu.

Quando por fim a manhã,
Cintilante, vem secar,
Nas bermas e nas valetas,
A água da tempestade,

Só as tílias seculares,
Cheias de perfume e flor,
Nos olham com o olhar
De quem passou mal a noite.




Tradução: David Mourão-Ferreira





Sem comentários:

Enviar um comentário