sábado, 23 de abril de 2016

GONÇALO ANES BANDARRA - O Poeta Bandarra






Gonçalo Anes Bandarra (Trancoso, Portugal, 1500 – 1566)

Espécie de profeta ou pseudoprofeta, pensa.se que terão sido os livros escatológicos da Bíblia que despertaram nele uma certa tendência iluminista para interpretar os acontecimentos desastrosos do seu tempo. Mas foi, sobretudo, a partir das suas  exegeses peregrinantes, feitas em círculos ocultistas, especialmente  em Lisboa, que o Santo Ofício se começou a preocupar com ele, obrigando-o a tomar parte na procissão do culto-de-fé de 23 de Outubro de 1541.

As suas Trovas, embora proibidas pela Inquisição, incluídas no Catálogo dos Livros Proibidos (1581), e condenadas pela Mesa Censória, nem mesmo assim deixaram de circular, clandestinamente, acabando, finalmente, por serem editadas em Nantes, pelo marquês de Nisa, no ano de 1644.

Foram especialmente os judeus os que, vítimas de maiores perseguições pela Inquisição, lhe atribuíram um alcance transcendente que elas não tinham. E paralelamente com os judeus, os graves cataclismos religiosos e político-sociais da Reforma e Contra Reforma, a crise dinástica durante a menoridade de D. Sebastião e a consequente perda da independência, com a sua morte em Alcácer Quibir, etc.

Tudo isto tendo contribuído para que as referidas Trovas abrissem caminho através do país inteiro, com a aquiescência, não só dos espíritos incultos, mas, inclusive, de grandes figuras do pensamento, como é o caso do Padre António Vieira, transformando-se num elemento catalisador de preocupações psicossociais e de mitificação nacional, acobertada pela capa do misticismo religioso.

Os restos do poeta-sapateiro Bandarra encontram-se depositados na igreja de S. Pedro, de Trancoso, numa sepultura com epitáfio, mandada levantar em 1641 pelo governador das Armas da Beira, D. Álvaro Abranches.



Fonte: Literatura Portuguesa



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Palavras de Bandarra:

Sou sapateiro, mas nobre
Com bem pouco cabedal;
E tu, triste Portugal,
Quanto mais rico, mais pobre

Em dois sítios me achareis,
Por desgraça ou por ventura:
Os ossos na sepultura,
A alma, nestes papéis.



Algumas trovas de Bandarra:

Os tempos com crueldade
Começar-se hão a mover,
Se me não engana a verdade
Ali perderão seo ser
No meio de certa idade.


Virà gozando de paz
Aquelle pastor valente,
Hum lobo que guerra faz
Moverà toda a gente
Com huma limgua sagaz.


Jà vejo que se desterra
Este pastor sem ventura,
Da patria rebanho, e terra
A huma larga Sepultura
De huma frondoza serra.

Serà pastor estrangeiro
O que reja o manço gado
Que taõ bravo foi primeiro
Mas ai que falta o malhado
Que era o principal Carneiro.

Haverà em triste Cidade
Grande fome peste, e guerra,
Que a Escritura a não erra
Que em tudo falla verdade,



Imagem: Estátua de Bandarra em Trancoso, Portugal








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