António José da Silva, “O Judeu” (Rio de Janeiro, Brasil, 1705 – Lisboa, Portugal,
1739)
António
José da Silva, “O Judeu”, é um dos grandes nomes da História da Literatura
Portuguesa e Brasileira.
A
família terá procurado na colónia sul-americana uma maior tolerância, numa
altura em que os judeus eram perseguidos em Portugal e nas suas colónias. (…)
António
José da Silva era filho do advogado e poeta João Mendes da Silva, que conseguiu
manter a fé judaica secretamente, e de Lourença Coutinho, filha de um
proprietário de uma plantação de cana-de-açúcar, que não conseguiu escapar das
malhas inquisitórias. Em 20 de Fevereiro de 1712, Lourença Coutinho foi presa,
acusada de ser judia, e foi deportada para Portugal, a bordo da nau
"Calendária", onde foi entregue à Santa Inquisição.
João Mendes da
Silva decide, nessa altura, partir para Portugal para estar próximo da esposa e
leva consigo os filhos: António José (7 anos), Baltazar (doze anos) e André
(dez anos). A 10 de Outubro desse ano desembarcam da nau "Madre de
Deus" e dez meses depois os pais de António José da Silva são condenados
às penas de confiscação de bens, abjuração, hábito penitencial e cárcere, onde
permanecem dez dias, acabando por se estabelecerem em Lisboa.
Anos mais tarde,
numa das suas "óperas", António José da Silva chegará a escrever os
seguintes versos: "
Tirana ausência
que me roubaste e me levaste
da alma o melhor
Ai de quem sente
de um bem
ausente
a ingrata dor.
Aos
21 anos já António José da Silva frequentava o curso de Direito na Universidade
de Coimbra e destacava-se pela inteligência e pelas qualidades enquanto poeta. (…)
Interessado
pela dramaturgia, "O Judeu"" foi autor de uma sátira que serviu
de imediato às autoridades como pretexto para a sua prisão. A 8 de Agosto de
1726, António José da Silva foi preso, juntamente com a mãe, e submetido a
torturas que lhe fizeram perder a fala e que o deixaram parcialmente inválido.
Após a abjuração, a penitência e o juramento de jamais cometer heresias,
António José da Silva foi libertado. (…)
O
período de seis anos, entre 1733 e 1738, corresponde ao auge da criação
literária de António José da Silva e à sua afirmação como dramaturgo.
As suas
sátiras e comédias ficaram conhecidas como a obra do "Judeu" e foram
várias vezes encenadas com grande êxito.
Foram-lhe atribuídas obras, publicadas
em vida do autor, como: Labirinto de
Creta, As Variedades de Proteu, Guerras
do Alecrim e Manjerona. (…)
António
José da Silva, respeitado até pelo rei, viu-se preso de novo, a 5 de Outubro de
1737, juntamente com a mulher e com a mãe, já viúva. (…) Foi acusado de jejuns
rituais, torturado, acabando por ser condenado como herege. (…)
A
18 de Outubro de 1739, António José da Silva foi estrangulado e queimado num
Auto-de-Fé, em Lisboa, no "Campo da Lã". (…)
A
sua vida e a sua obra foram fonte de inspiração para muitos, entre eles, Camilo
Castelo Branco, no romance O Judeu
(1866), Bernardo Santareno na peça O
Judeu (1966) e, mais recentemente, o filme O Judeu (1995), uma vida encenada por Jom Tob Azulay.
Fonte:
Teatro Nacional D. Maria II (excertos)
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