sexta-feira, 2 de setembro de 2016

BERTOLT BRECHT - Louvor do Esquecimento





Bertolt Brecht (Augsburgo, Alemanha, 1898 – Berlim Leste, 1956).

Dramaturgo e poeta, pertenceu ao Grupo Berlinense, constituído, na década de 1920, por expressionistas, anarquistas, niilistas e vanguardistas. 
Em 1930 aderiu ao marxismo, mas teve de fugir ao nazismo, exilando-se na Escandinávia e depois nos E.U.A. 

Suas peças, que ilustram sua doutrina do “teatro épico e de participação política”, revelam a intenção de fazer com que o espectador tome consciência das iniquidades do mundo actual. 

Além de poesias (Livro de devoção, título irónico de uma colectânea), deixou, entre outros, as peças Ópera de três vinténs (1928), Mãe Coragem (1938), que são as mais conhecidas.



in “Dicionário Enciclopédico”



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Palavras de Bertolt Brecht:

“Muitos juízes são absolutamente incorruptíveis; ninguém consegue induzi-los a fazer justiça.”

“Que é roubar um banco em comparação com fundar um banco?”


“Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis.”



Louvor do Esquecimento


Bom é o esquecimento.
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.

Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discípulo tem de se pôr a caminho.

Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.

O fogão aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
Não reconhece a broa de pão.

Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã?
Como é que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?

A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens.


in “Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros”

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