quinta-feira, 10 de novembro de 2016

ALBERTO DE OLIVEIRA - O Mar agita-se, como um alucinado




Alberto de Oliveira(Porto, Portugal, 1873 — São Mamede de Infesta, 1940).

Poeta e primeiro doutrinário do tradicionalismo literário folclorista. 

Fez a a sua estreia no mundo das letras com Poesias (1891), lançando logo a seguir um pregão de Neogarretismo anti-jacobino e anti-nacionalista, com Palavras Loucas e Cartas da Última Hora (1894). 

Quando o simbolismo surgiu em França, Alberto de Oliveira, então estudante em Coimbra, prontamente aderiu a esse movimento literário de reacção contra o Parnasianismo, escrevendo: 

«Como é ridícula e impotente a ideia parnasiana no meio de tantas opulências por explorar, e como aflige a mesquinha obra de Crespo, contando móveis e porcelanazinhas.» 

Para acrescentar mais adiante: «A vida é uma ondulação e as palavras velhas são duras como ângulos. Como adaptar uma moldura de ferro a um sonho? Por isso, caminhamos para a música como para uma aspiração. (…) Nós queremos a indisciplina, a imagem desgrenhada, temos ódio à regra, desprezamos o contorno, queremos a mancha.»




in “Dicionário da Literatura Portuguesa”


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Palavras de Alberto de Oliveira:
"Oh, a saudade, poeta, é uma ressurreição!"



O Mar agita-se, como um alucinado


O Mar agita-se, como um alucinado:
A sua espuma aflui, baba da sua Dor...
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador.

Dá-lhe um aspecto estranho a campânula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!

E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:

Assim devemos nós, Poetas, no Mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar
— Pois a Arte é, para nós, o escafandro das Almas!



in "Bíblia do Sonho"






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