domingo, 20 de novembro de 2016

FADO DA PARÓDIA À CASA DA MARIQUINHAS





FADO DA PARÓDIA À CASA DA MARIQUINHAS



É numa rua bizarra
a casa da Mariquinhas…
Tem na sala uma guitarra,
Janelas com tabuinhas.


Vive com muitas amigas
Aquela de quem vos falo,
e caso é que são de estalo
todas essas raparigas!
É doida pelas cantigas,
faz vida como a cigarra,
se geme o fado à guitarra
até parece que chora,
e a casa onde ela mora
é numa rua bizarra

Para se tornar notada
Usa coisas esquisitas.
Muitas rendas, muitas fitas,
E todas de cor variada.
Pretendida e desejada,
Não pensa em coisas mesquinhas
Nem se rala co´as vizinhas
Que bramam, constantemente,
Por verem cheia de gente
A casa da Mariquinhas.

A casa é simples, singela,
Não muito bem mobilada,
Mas vou falar-vos do nada
Que conheço em casa dela:
No vão de cada janela
Uma coluna e uma jarra,
móveis de forma bizarra,
quadros de gosto magano,
e, em vez de ter um piano,
tem na sala uma guitarra.

Para guardar seu espólio,
Um cofre-forte comprou
E, como a gás acabou,
O candeeiro é de petróleo.
Limpa seus móveis com óleo
de amêndoa doce, e as vizinhas
da casa da Mariquinhas
tentam ver que lá se passa,
mas ela tem, por pirraça,
janelas com tabuinhas.




in “A Paródia” – Caim - 12 de Janeiro de 1923
Imagem: pintura de Albino Moura (Lisboa, Portugal, 1940).





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