terça-feira, 15 de novembro de 2016

JOÃO GASPAR SIMÕES – Crítico e escritor




João Gaspar Simões (Figueira da Foz, Portugal, 1903 – Lisboa, 1987).

Considerado por Mário Sacramento como “o primeiro grande crítico da nossa história das letras” e por José Cardoso Pires como aquele que “abriu o capítulo da Crítica numa literatura onde apenas se assinalavam rasgos de polémica ocasional, desde José Agostinho de Macedo ao republicano Alexandre da Conceição, com desgarradas passagens por Eça, Camilo, Ramalho, etc.”, para depois, “pegar no exemplo de Moniz Barreto com vista a uma actividade regular da crítica; e nobilitá-la; e persistir nela ao longo de cerca de quarenta anos”, João Gaspar Simões foi, de facto, em que pese o ressabiamento mal escondido de tantos que nunca lhe perdoaram os arranhões (quiçá injustos) neles deixados pelo autor de Liberdade de Espírito (1948), a mais substancial e persistente figura de crítico de toda a nossa história literária. (…)

Dá-se à boémia estudantil de cariz intelectual, frequenta tertúlias e, com Afonso Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca, Campos de Figueiredo e Vitorino Nemésio funda a revista “Tríptico”, em 1924, na qual colaborará, lado a lado com, além dos escritores citados, Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, José Régio, Alberto de Serpa, Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes, entre outros. (…)

Leitor omnívoro e espírito independente, a sua frontalidade e o seu gosto certeiro fizeram-lhe uma profusão de amigos e admiradores e uma não menor profusão de inimigos e detractores. Mas a afirmação de David Mourão-Ferreira, segundo o qual o autor de Novos Temas (1938) se teria evidenciado, “com isenção e independência exemplares, a própria consciência da literatura”, ainda hoje se tem de pé.

João Gaspar Simões, ao contrário de todos os outros codirectores da “Presença”, nunca fez qualquer incursão pelo território da poesia. E o seu teatro – O Vestido de Noiva (1952) e Marcha Nupcial (1964) – não tem condições de perdurabilidade. 

Mas já, no domínio do romance, do conto e da novela, deixou obras significativas, que são, provavelmente, marcos duradouros: Elói ou Romance numa Cabeça (1932); Pântano (1940); Amigos Sinceros (1941); A Unha Quebrada (1941) e Internato (1946). 

Dando à psicologia – com José Régio –, na ficção, uma importância que ela até aí não tivera, isto mesmo lhe (lhes) valeu a incompreensível acusação de “excesso de psicologismo”...

No sector da biografia, em que pesem as reservas que se lhe possam pôr, deixou-nos duas obras que são, ainda hoje, de referência obrigatória: Eça de Queirós, o Homem e o Artista (1945) e Vida e Obra de Fernando Pessoa (1950).



Fonte: Instituto Camões – (excertos)


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