quinta-feira, 22 de junho de 2017

RENÉ CREVEL – Poeta

 


RENÉ CREVEL
(Paris, França, 1900 – 1935)

 Poeta, romancista e ensaísta

O mais conhecido dos escritores surrealistas é talvez Éluard, o mais surrealista dos escritores surrealistas pode ser Breton, e o mais esquecido dos escritores surrealistas é René Crevel. Mas mesmo com essas lacuna, o jovem René sempre teve grandes adeptos entre minorias alternativas.
Crevel era um homem torturado. Aos catorze anos, assistiu ao suicídio do pai, que se enforcou. Surrealista fiel a André Breton, que tinha como um pai espiritual, era tuberculoso e passou temporadas em sanatórios. Inquieto, andou pelas bandas da psicanálise, mas continuava a sentir-se domador e fera de si mesmo. Tumultuoso e frágil, escreveu em 1925 que a inteligência incita ao suicídio. Cumpriria essa vocação dez anos depois.

Algumas das suas obras: Mon Corps et moi, La Mort difficile, L'Esprit contre la raison, Le Roman cassé et derniers écrits.

in “Ecos do Nada” (excertos)
 
***
OLHAR
 
Teu olhar cor de rio
É água que muda, em arranjo
Com o dia saciado no cenário.
Madrugada, Vestido de anjo
Um naco do manto celestial
Sob teus cílios, entre as margens
Se fez. Flui, flui viva água em paragens.
A noite parte, mas o amor permanece
E minha mão sente bater um coração.
A alvorada quis adornar nossos corpos com sua acalmação.
Corpo-de-Deus.
O desejo matinal retomou nossos corpos nus
Para esculpir uma carne que acreditávamos cansada.
Sobre os rios ao longe barcas já desancoradas.
Nossas peles depois do amor têm cheiro de pão quente.
Se a água dos rios está pelos nossos membros,
Teus olhos lavarão minha alma;
Mas teu olhar líquido ao meio-dia que eu temo
Se transformará em chumbo?
Eu tenho medo do dia, do dia pesado como um jumbo
Do dia que sacia teu olhar cor de rio
Ou numa noite pavimentada por gêmeos triunfos
Se a vitória grita a volúpia dos anjos,
Revele-se nela a Majestade de um Ganges.
 
 
Tradução: Lucas Guimarães
 

 
 
 
 

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