quarta-feira, 28 de junho de 2017

TEÓCRITO - As Feiticeiras

 
 
 
TEÓCRITO
(Siracusa, Itália, 315 a.C.-250 a.C.)

Poeta

 
Teócrito, o maior dos poetas helenísticos e o último grande poeta grego, era contemporâneo de Calímaco (315 a.C. – 244 a.C.) e também viveu algum tempo em Alexandria. Praticamente tudo que sabemos a seu respeito baseia-se em sua própria obra.

 A julgar por alguns dos seus poemas, deve ter conhecido várias regiões da Magna Grécia. Viveu algum tempo na ilha de Cós, onde aparentemente tinha laços familiares. Esteve também no Egipto.

 Os principais poemas de Teócrito são conhecidos colectivamente por idílios (pequenos poema) devido à sua pequena extensão - de 100 a 200 versos, às vezes menos. Chegaram até nós cerca de trinta idílios, alguns epigramas e um poema figurado, A Flauta.

 Os idílios podem ser reunidos em três grupos: idílios pastorais ou bucólicos; mimos dramáticos e líricos e pequenos poemas em versos épicos.

 Os versos de Teócrito mostram preocupação com a forma, mas sem a pedante erudição alexandrina. O vocabulário é simples, as numerosas comparações e os diálogos são curtos e naturais; nos idílios bucólicos, inclusive, está presente o dialecto dórico, utilizado pelos pastores sicilianos. Predomina o verso hexâmetro.

 Teócrito buscou, certamente, inspiração em formas e gêneros literários mais antigos, mas conseguiu moldá-los em um novo gênero literário. Pela primeira vez, portanto, personagens humildes e de baixo nível social foram retratados em hexâmetros, antes reservados aos aristocráticos heróis homéricos.

 
in “Graecia Antiqua, São Carlos”

 
* * *
 
AS FEITICEIRAS (início do poema)

 
Traze-me os filtros, anda! E as folhas de loureiro.
Envolve-me essa taça em lã avermelhada,
a ver se encanto assim o cruel estrangeiro
que há doze dias já me deixa abandonada…

Ave, traze até mim o jovem meu amado.

Vou queimar lentamente este ramo de louro:
vede como crepita! Ei-lo já todo em brasa…
Assim fique também aquele por quem morro!
E que eu o veja ardendo, aqui, em minha casa!

Ave, traze até mim o jovem meu amado.
 
Derreter esta cera? Assim me ajude a lua,
para que se derreta a sua própria alma!
Ou que eu o veja então rondar a mina rua,
como nas minhas mãos esta onda não pára!

Ave, traze até mim o jovem meu amado.

Já o mar se calou; já o vento caiu…
Mas a dor, no meu peito, é que nunca se cala.
Que foi que se passou? Sei que tudo perdi,
e que sou, para ele, ainda menos que nada.

Ave, traze até mim o jovem meu amado.

 
Tradução: David Mourão-Ferreira

 

 

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