terça-feira, 8 de agosto de 2017

Poema de PAUL ÉLUARD dedicado a PABLO PICASSO

 
 
 
A PABLO PICASSO

Mostrai-me esse homem de sempre tão suave
Que dizia que os dedos fazem subir a terra
O arco-íris que se enlaça a serpente que se enrola
O espelho carnal onde a criança é uma pérola
E estas mãos tranquilas que seguem o seu caminho
Nuas obedientes reduzindo o espaço
Carregadas de desejos e de imagens
Uma seguindo a outra como agulhas do mesmo relógio
Mostrai-me o céu carregado de nuvens
Repetindo o mundo oculto em minhas pálpebras
Mostrai-me o céu numa única estrela
Eu vejo bem a terra sem ficar deslumbrado
As pedras obscuras as ervas fantasmas
Estes grandes copos de água estes grandes blocos de âmbar das paisagens
Os jogos do ferro e da cinza
As geografias solenes dos limites humanos

 
Mostrai-me também o corpete negro
Os cabelos puxados os olhos perdidos
Destas raparigas negras e puras que estão aqui de passagem mas que me agradam tanto
Que são orgulhosas portas nos muros deste verão
Estranhas jarras sem líquido replectas de virtudes
Inutilmente feitas para relações simples
Mostrai-me estes segredos que unem as suas têmporas
A estes palácios ausentes que fazem subir a terra

 
PAUL ÉLUARDpoeta (Saint-Denis, França, 1895 -Charenton-le-Pont, 1952).

PABLO PICASSOpintor, escultor, poeta e dramaturgo (Málaga, Espanha, 1881 – Mougins, França, 1973).

Imagem: fotografia de Man Ray

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