domingo, 17 de setembro de 2017

O ARTISTA PERANTE O ESTADO

 
 
 
O ARTISTA PERANTE O ESTADO

Em Abril de 1947, um tribunal americano declara «desnazificado» o compositor e director de orquestra alemão Wilhelm Furtwängler, requisito imprescindível para que lhe seja permitido iniciar a carreira.
Idêntico processo tiveram de seguir numerosas figuras da cena musical alemã, como o também director Herbert von Karajan, «desnazificado» e, 1945, o eminente compositor Richard Strauss, que o foi em 1948.
 
O caso de Furtwängler, no entanto, faz duvidar da legitimidade de processos desta índole. Embora seja certo que renunciou ao exílio e continuou a desempenhar as suas funções artísticas durante todo o conflito bélico, a sua atitude foi sempre claramente antinazi (negou-se sempre a efectuar a saudação obrigatória, de mão estendida, em qualquer dos seus aparecimentos públicos) e ajudou mesmo  a fugir do país  numerosos artistas e intelectuais, com grave risco para a sua própria segurança pessoal.
 
Poucas vezes na história se deu um caso tão indiscutível de um artista que nas circunstâncias do seu tempo tenha sido colocado perante o difícil dilema de apoiar a sua arte e a sua pátria contra as instituições que controlam uma e governam a outra.
 
in “Crónica da Música”
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Imagem: ilustração da capa do catálogo da exposição de Música degenerada de 1938.

O catálogo da exposição de Música degenerada deixa clara a questão. Elaborada pelo diretor do Teatro Nacional de Weimar, Hans Severus Ziegler, o catálogo é um verdadeiro ataque grosseiro e aleatório a algumas tendências e indivíduos, tornando-se um documento revelador do vazio intelectual e do discurso ensandecido e violento dos nazistas. A própria capa da exposição revela o tamanho da brutalidade. Nela podemos observar um saxofonista negro portando na lapela uma estrela de Davi, simbolizando em uma só imagem algumas das principais vítimas dos ataques nazistas: o judeu, o negro e, enquanto música, o jazz.

in ”Música e Sociedade” (excerto)

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