domingo, 3 de setembro de 2017

RAINER MARIA RILKE – A morte do poeta

 

RAINER MARIA RILKE
(Praga, República Tcheca,1875 - Valmont, Suíça, 1926)

                          Poeta                            

Um dia, quando recolhia rosas no seu jardim, preparando-se para oferecê-las a uma amiga, feriu-se com um espinho. A picada do espinho infeccionou e sobreveio a leucemia fatal. Nos últimos dias, Rilke negava-se a tomar injecções, dizendo: «Não, deixem-me morrer de minha própria morte. Não quero a morte dos médicos».

Rainer Maria Rilke terminou seus dias no castelo de Muzot, na Suíça, que lhe fora presenteado por um amigo. O castelo elevava-se «num panorama de montanhas tristes, onde o poeta abusava de sua intimidade com o silêncio», como disse seu amigo Paul Valéry.

 
in “Mundo Literário” – Semanário de Crítica e Informação Literária, Científica e Artística – 1947

***

A MORTE DO POETA

Jazia. A sua face, antes intensa,
pálida negação no leito frio,
desde que o mundo, e tudo o que é presença,
dos seus sentidos já vazio,
se recolheu à Era da Indiferença.

Ninguém jamais podia ter suposto
que ele e tudo estivessem conjugados
e que tudo, essas sombras, esses prados,
essa água mesma eram o seu rosto.

Sim, seu rosto era tudo o que quisesse
e que ainda agora o cerca e o procura;
a máscara da vida que perece
é mole e aberta como a carnadura
de um fruto que no ar, lento, apodrece. 






in “Novos Poemas”
Tradução: Augusto de Campos 

 

1 comentário:

  1. Adorei a frase repetida por Rilke em seus últimos dias - e pretendo adotá-la! Grata, Edu Taveira!

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