sábado, 28 de outubro de 2017

ÉLUARD, NERUDA, RAFAEL ALBERTI




ÉLUARD, NERUDA, RAFAEL ALBERTI


Éluard, Neruda, Rafael Alberti, embora a sua poesia apresente aspectos não menos relevantes, são superiores poetas da linguagem, pois, antes de mais, eles acreditam no poder criador dela, no seu sublime delírio pelo qual o homem produz os mais puros cristais do seu espírito e da sua alma.

Ultrapassando muitas vezes a poesia de significação, a poesia como instrumento de conhecimento, eles criam pela linguagem um novo céu a que só podem ser sensíveis os que têm o dom da poesia. Até nova ordem mais cabal, essa graça é o privilégio da poesia escrita. Nada pretendendo dizer, nada tendo a transmitir, o poeta entrega-se às maravilhosas possibilidades dum instrumento que lhe devolve um canto que vai responder miraculosamente às exigências mais íntimas da sua alma.

Poucos aceitarão a validade de tais experiências, de que só os mais altos poetas se salvam. Haverá sempre, contudo, quem saiba sentir um verso maravilhoso como «Révérence cachant tous les ciels dans sa grâce», embora só secundariamente lhe interesse a explicação.

Citámos de propósito três dos mais altos poetas do nosso tempo, cuja posição humana é bem conhecida, para que não se receie que os poetas alguma vez submeterão a sua poesia a consígnias alheias à sua personalidade.

Quer elevando-se às altitudes onde a poesia se alimenta apenas dum secreto génio ou duma felicidade puríssima, quer cantando claramente as lutas e as esperanças dos homens, tais poetas são sempre poetas. E é sintomático que três dos maiores do nosso tempo não desdenhem estar ao lado de milhões de homens, a quem as necessidades prementes impedem o acesso à poesia ou a qualquer superior actividade do espírito. Os poetas da afirmação confiam na palavra e nos homens. Ninguém melhor que Éluard exprimiu essa confiança:
«A poesia só se fará carne e sangue a partir do momento em que for recíproca. Os poetas sabem - e eis a razão por que lhes chamam revolucionários - que esta reciprocidade é inteiramente função da igualdade da felicidade material entre os homens. E a igualdade na felicidade levará esta a uma altura que nós mal podemos imaginar. Mas nós sabemos que essa felicidade não é impossível


ANTÓNIO RAMOS ROSA, in “A Árvore” – revista literária (1951).
Imagem: António Ramos Rosa, por Carmo Pólvora, in Fotobiografia do poeta organizada por Ana Paula Coutinho.




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