segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

ANTÓNIO NOBRE - Enterro de Ofélia


ANTÓNIO NOBRE
(Porto, Portugal, 1867 -Foz do Douro, 1900)

Poeta

ENTERRO DE OFÉLIA

Morreu. Vai a dormir, vai a sonhar... Deixá-la!
(Falai baixinho: agora mesmo se ficou...)
Como Padres orando, os choupos formam ala,
Nas margens do ribeiro onde ela se afogou.

Toda de branco vai, nesse hábito de opala
Para um convento: não o que Hamlet lhe indicou,
Mas para um outro, horror! que tem por nome Vala,
De onde jamais saiu quem, lá, uma vez entrou!

O doce Pôr-do-Sol, que era doido por ela,
Que a perseguia sempre, em palácio e na rua,
Vede-o, coitado! mal pode suster a vela...

Como damas de honor, Ninfas seguem-lhe os rastros,
E, assomando no Céu, sua Madrinha, a Lua,
Por ela vai desfiando as suas contas, Astros!





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