domingo, 10 de dezembro de 2017

Poema de JOSÉ TERRA dedicado a MATILDE ROSA ARAÚJO - Descoberta

                                          

                           
   
                             
           DESCOBERTA


Sinto-me livre, fresco, auroreal,
neste rio de sombra e de silêncio.

Nele descubro a força e as origens
inevitáveis origens dos meus passos.

Nele me encontro total e verdadeiro
com meus claros olhos de animal
parentes das estrelas e dos limos.

Nele navega a minha noiva astral
toda coroada de flores carnais
num barco à imagem de minha alma.

Nele a beleza brinca, e precipito-me
no rastro da efémera flor
que tremula nos dedos da verdade.

No centro dele o coração liberta-se
e transborda das margens do meu corpo.

No centro dele um deus primaveril
com um diadema de flores de água
guarda a flauta, a irreal flauta,
onde assobiarei o hino da manhã.

No centro dele espera-me uma corça
- talvez a minha noiva, incompreendida
e aniquilada sobre o continente.

Nos seus líquidos olhos a amizade
é uma flor de orvalho que tremula.

No centro dele rio, choro, canto
e acaricio o dorso da ternura.

No centro dele o teu retrato, Mãe!
múltiplo e uno, é onde me liberto
e parto em pássaros para os quatro mundos!



JOSÉ TERRA - poeta, filólogo, historiador e professor catedrático (Prozelo, Arcos de Valdevez, Portugal, 1928 – Paris, França, 2014)).

MATILDE ROSA ARAÚJOescritora e poetisa (Lisboa, Portugal, 1921-2010).





                                   

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