domingo, 1 de abril de 2018

GEORGES MINOIS – O inextinguível riso dos deuses


GEORGES MINOIS
(França, 1946)
Escritor, professor de História

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O inextinguível riso dos deuses

«Depois de o deus rir, nasceram os sete deuses que governam o mundo… Quando ele rompeu às gargalhadas, surgiu a luz (…) Gargalhou segunda vez, e tudo foram águas. À terceira gargalhada, apareceu Hermes; à quarta, a geração; à quinta, o destino; à sexta, o tempo». Depois, antes do sétimo riso, o deus inspirou fortemente, mas tanto riu que até chorou, e das suas lágrimas nasceu a alma.

Assim nos fala o autor anónimo de um papiro alquímico do século III da nossa era: o papiro de Leiden. 

O universo surgiu de um enorme acesso de riso. O deus, o Único, seja ele qual for o seu nome, foi presa – não sabemos por quê – de uma crise de riso louco, como se subitamente tivesse tomado consciência do absurdo da sua existência. Nesta versão da criação, o deus não cria pela palavra, que já é civilização, mas por essa explosão de vida selvagem, e cada uma dessas sete gargalhadas faz surgir do nada um novo absurdo tão absurdo como o próprio deus: luz, água, matéria e espírito. 

E depois deste big bang cómico e cósmico, o deus e o universo – aquele que ri e a sua explosão de riso – ficam num eterno cara-a-cara, interrogando-se sobre que fazem aqui.



in”História do Riso e do Escárnio”

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