quarta-feira, 4 de abril de 2018

STENDHAL - Escritor



STENDHAL
(França, 1783 - 1842)
Escritor

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Henry Beyle, que alcançou a imortalidade na literatura sob o pseudónimo de Stendhal, foi acima de tudo um espectador apaixonado, caloroso sob uma timidez inata, lúcido e quase cínico, do seu próprio tempo. As circunstâncias proporcionaram ao seu talento irrequieto e estranho um dos mais ricos panoramas vivos da história.

Protegido por Daru, grande admirador das campanhas napoleónicas, foi pela primeira vez à Itália que nunca mais deixou de ser a pátria decorativa e ardente da sua fantasia.

Assistiu ao incêndio de Moscovo e à derrocada de Napoleão, observou com realismo intelectual as tragédias da guerra, correu aventuras e amores em muitos destinos. De tudo lhe ficou uma cruel frieza para conhecer até ao fundo as misérias e grandezas do ser humano, um amoralismo que só no movimento desencadeado da acção e das paixões se compraz – e um aborrecimento doentio para a vida calma a que teve de sujeitar-se daí em diante.

Além dos romances Le Rouge et le Noir e La Chartreuse de Parme, em que as suas espantosas qualidades de vivificador, de personagens em movimento e em paixão se aliam a alguns defeitos igualmente fortes, Stendhal publicou ainda os romances Armance, Vanina Vanini, Les Cenci, L´Abesse de Castro – obras de movimento desencadeado e fremente, saturados de acção, de paixões arrebatadas, de ódios inexpiáveis, de energia por vezes brutal e quase sempre cega nas vidas que representa: e livros de viagens como Mémoires d´un turiste ou de história literária, como Racine et Shakespeare.

Como romancista, a obra de Stendhal situa-se numa surpreendente diversidade de sentidos, entre a literatura do século XVIII, em que colheu muito da sua ideologia estética e moral sobre a natureza humana, o romantismo que lhe comunicou a exuberância e o fogo, e um naturalismo antecipado pelo vigor com que rebusca as fatalidades temperamentais, a fisiologia dos sentimentos e a verdade dos costumes. O romance, como ele mesmo disse, «c´est un miroir que l´on promène le long d´un chemin».



Álvaro Salema, in “Mundo Literário” - 1946 (excertos)







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