terça-feira, 29 de maio de 2018

JOSÉ MANUEL ANES – Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos



JOSÉ MANUEL ANES
(Lisboa, Portugal, 1944)
Professor, antropólogo
                                    
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FERNANDO PESSOA E OS MUNDOS ESOTÉRICOS

Fernando Pessoa percorreu muitos dos caminhos mais significativos do Esoterismo - «o modo oculto de fazer», assente no «modo oculto de saber» - e fê-lo sempre com interesse e entusiasmo, por vezes mesmo apaixonadamente, «sentindo tudo de todas as maneiras», deixando aí os nervos e a “pele” – tal como a “serpente” – em todos eles, com sofrimento e dúvida, com comprometimento e empenhamento (em muitos deles): «temos de viver intimamente (mesmo o que repudiamos)». 

Comprometeu-se nesses caminhos, sendo tudo e sendo nada – mas sendo «o nada que é tudo», o «mito», que é «Verdade», mesmo que não seja «verdadeiro» - e foi livre em todos eles – «não se subordinando a nada, nem ao próprio ideal» - sem deixar de lhes pertencer de algum modo e de os defender. Quando defendeu, “cavaleirescamente” a Maçonaria, já no final da vida, foi não só pelo interesse iniciático da Ordem, mas também, devido à imperiosa luta pela Liberdade, que essa defesa implicava e que poderia assegurar.

Passou por todos esses caminhos, que não são nenhum caminho, em demanda do «mistério supremo» - num «dissipar gradual das ilusões», embora passando depois por outras ilusões – no supremo desígnio de «ser português», isto é, de «ser tudo». Num «grande acto de magia intelectual, criou, em sintonia com esta demanda, uma notável obra literária que reforçou esse Império da Cultura e do Espírito - «a Pátria da língua portuguesa» - que será (ou é) o Quinto. Considerou «estarmos na Era do Desejado», embora não esperasse pelo Regresso do Rei, mas pelo «Regresso daquilo que o Rei simbolizava». Quis, e conseguiu, ser um «criador de mitos», um «estimulador de almas», um «despertador das energias» nacionais (não só no seu tempo, mas mais tarde), ao ponto de ter gritado: «É a Hora!».

Passou pela Teosofia (…), pela Gnose (…), pela Rosa-Cruz (…), pela Maçonaria (…), pelos Templários (…), pela Alquimia (…), pela Magia (…), (…).

(…) Mesmo que Pessoa – Poeta, Mago e Alquimista – não tivesse atingido a imortalidade através da sua obra literária, essa “simples” vertigem iluminadora ter-lhe-ia assegurado a Imortalidade espiritual, a realização da Grande Obra – tal como a «serpente» que, ao deixar a pele em todos os caminhos, segue aquele caminho que não existe (o do «desassossego»), aquele em que se encontra só consigo mesma e com os deuses que foi criando, os quais são ela própria…



in “FERNANDO PESSOA E OS MUNDOS ESOTÉRICOS” – 2004 - (excertos)





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