quarta-feira, 9 de maio de 2018

PEDRO HOMEM DE MELLO - Bodas Vermelhas



PEDRO HOMEM DE MELLO
(Porto, Portugal, 1904 — 1984)
Poeta

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Estudioso do folclore português, dedicou a este campo numerosos programas na televisão e ensaios, como A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português, Danças Portuguesas e Danças de Portugal.   

Poeta, fez parte do movimento da revista Presença. Estreou-se com o volume Caravela do Mar, 1934 e com Segredo.

As raízes do seu lirismo bem português mergulham na própria vivência íntima e na profunda sintonia com o povo, cuja alma se lhe abria através do folclore, tendo por cenário a paisagem nortenha.


in “Portugal Século XXI”

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Bodas Vermelhas

Fere-me, vá! Vem a mim Povo!
Com teu espírito grosseiro!
Teu corpo de acre vinho novo
De que me causa náusea o cheiro!
Eu seja o último ceguinho!
Vem a mim povo! E o amor que minta!
Vem com as mangas plúmbeas de linho
E com a faixa vermelha à cinta!...
Ai dos prodígios de beleza!
- Beleza surda que nos mata!...
Vem a mim povo! de carne presa
Aos ecos cínicos da prata!...
Com tua dança que não é tua,
Com o teu desejo inconsciente,
Sombra do mar, do sol, da lua
A lembrar bichos que lembram gente!...
Com teu olhar que não vê nada
A não ser pau que se descubra,
Com a tua boca espessa e rubra.
Com tua mão curta, pesada,
Fere-me, vá! Destrói a alvura
De meu altar de sonhador!...

- Que a noite, a minha noite escura
Em sangue mude a sua cor!...



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