quinta-feira, 21 de junho de 2018

MÁRIO BEIRÃO - Ausência



MÁRIO BEIRÃO
(Beja, Portugal, 1890 - Lisboa, 1965)
Poeta

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Pertenceu ao grupo saudosista aglutinado à volta da revista A Águia, tendo-se estreado com o livro O Último Lusíada, 1913. Já então, a par das características saudosistas, manifesta um tom populista precursor quer do telurismo de Miguel Torga quer do regionalismo dos neo-realistas. 

A primeira fase da sua obra compõe-se dos poemas integrados no movimento Renascença Portuguesa. Na segunda fase canta sobretudo a paisagem alentejana e a «ausência». A parti de 1940 tende para a exaltação do nacionalismo monárquico.   


in “Portugal Século XX”

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Ausência

Nas horas do poente,
Os bronzes sonolentos,
— Pastores das ascéticas planuras —
Lançam este pregão ao soluçar dos ventos,
À nuvem erradia,
Às penhas duras:
— Que é dele, o eterno Ausente,
Cantor da nossa vã melancolia?

Nas tardes duma luz de íntimo fogo,
Rescendentes de tudo o que passou,
Eu próprio me interrogo:
— Onde estou? Onde estou?
E procuro nas sombras enganosas
Os fumos do meu sonho derradeiro!

— Ventos, que novas me trazeis das rosas,
 Que acendiam clarões no meu jardim?
— Pastores, que é do vosso companheiro?
— Saudades minhas, que sabeis de mim?



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