quinta-feira, 30 de agosto de 2018

JOSÉ DE CASTRO - Actor



JOSÉ DE CASTRO
(Paço de Arcos, Portugal, 1931 - Lisboa, 1977)
Actor

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José de Castro parecia, por vezes, saído de uma peça de Shakespeare. Era um ser que transportava o mistério, e quem o transporta mostra-se indefinido e trágico, e desprotegido.

A vida que a natureza transmite, sobrepôs a que a inteligência modela. A sua foi, desde muito novo, de invenção, de projecção. Uma parte dela fez-se-lhe secreta-jogo de espelhos levando para o exterior de si reflexos de si, como se não tivesse existência precisa.

Dominava como poucos a técnica da imposição, do convencimento, do envolvimento. Possuía a capacidade da transfiguração, de ser o que interpretava, de fazer os outros acreditar no que comunicava. O seu segredo não estava tanto no que dizia, mas na maneira como dizia; não na reflexão que despertava, mas na hipnose que gerava.
Sabia que a acção só resulta se emanar do desejo, do sonho por ela. 

Foi passeando pelas ruas de Paço de Arcos, e Paço de Arcos mostrava-se nesses anos um espaço com tempos, que arquitectou muito do que viria a ser a sua utopia.

Humanista e universalista, comungava a diversidade da vida, do amor, da sensualidade. Deixava-se, sem embaraço, conquistar pelas pessoas, pela música, pela comida, pelos odores, pelas cores.


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ARY DOS SANTOS dedica a José de Castro, em evocação prestada no ano de 1983, este soneto vibrante:

      OLHOS DE TRAGÉDIA
          
                        «Tinhas no rosto as máscaras antigas
                         da poesia e da farsa. Da comédia
                         Tinhas por vezes nardos e urtigas
                         Nos teus olhos velados de Tragédia.

                         Despojado de tudo tu soubeste
                         dar a Todos aquilo que nos falta.
                         O talento maior com que acendeste
                         As tuas próprias luzes da ribalta.

                         Mas o teu coração era ternura.
                         Na tua voz corria a água pura
                         Da inocência não. Mas da verdade.

                         Resta de ti a ilha de um tesouro
                         Meu Irmão: a memória quando é de outro
                         não é saudade não. É amizade»



in ”JOSÉ DE CASTRO – Fotobiografia” – FERNANDO DACOSTA (Caxito, Angola, 1945), romancista, dramaturgo, jornalista.









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