segunda-feira, 17 de setembro de 2018

FRIEDRICH NIETZSCHE – Do Espírito de Gravidade


FRIEDRICH NIETZSCHE
(Reino da Prússia, 1844 – Império Alemão, 1900)
Filósofo, filólogo, poeta

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Do Espírito de Gravidade

«A minha linguagem – é a do povo: linguagem muito forte e muito franca para os delicados. E a minha palavra parece ainda mais insólita aos escritorzecos e aos rabiscadores de todas as qualidades.

«A minha mão – é a mão de um louco. Pobres de todas as mesas, de todas as paredes, de quanto oferece ainda um campo livre para loucos arabescos, para rabiscos de louco!

«O meu pé – é casco de cavalo. Trota e galopa a despeito de todos os obstáculos, para cima e para baixo pelos campos, e as suas correrias rápidas dão-me um prazer diabólico.

«O meu estômago - não será antes um estômago de águia? O que ele prefere é carne de cordeiro. Mas é certamente um estômago de ave.

«Sustentado com uma carne inocente, satisfeito com pouco, sempre pronto para o voo, impaciente por voar, elevar-me, eis como sou. Como não havia de ter alguma coisa de ave?

«E é sobretudo por odiar o espírito de Gravidade que tenho alguma coisa de ave; na verdade, sou seu inimigo mortal, abonado, jurado! Para onde, então, não voou já o meu ódio, desencaminhado?

«A este respeito poderia fazer uma canção - e cantá-la-ia, se bem que, sozinho numa sala vazia, só posso cantar para os meus próprios ouvidos.

«Outros cantores precisam de uma sala cheia para sentir a garganta harmoniosa, a mão eloquente, o coração alerta, o olhar expressivo – mas não me pareço com eles.»



in “Assim Falava Zaratustra”





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