domingo, 25 de novembro de 2018

ADÍLIA LOPES - Para um Vil Criminoso



ADÍLIA LOPES
(Lisboa, Portugal, 1960)
Poetisa, tradutora

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Adília Lopes apresenta-se nos seus versos como uma freira poetisa barroca portuguesa. O percurso meteórico da sua obra na literatura portuguesa poderia ser um case study de como uma poesia marginal alcança o coração do cânone literário ou sobre como deixar “prognósticos só para o final do jogo.” 

Autora de uma poesia inteligente e provocadora, Adília Lopes passou das primeiras edições de autor, obras de culto de uma minoria, a ser lida nas salas de aula de Literatura Portuguesa um pouco por todo o mundo. Este percurso tem o seu clímax na publicação de Dobra, a poesia reunida em obra completa, em 2009. 

Encontramos ecos da sua obra em vários campos da nossa contemporaneidade, sejam estes os da arte, com as gravuras que Paula Rego lhe dedica, ou o da música, em letras de bandas como "A Naifa".

in “Universidade de Coimbra” (excerto)
                  
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Para um Vil Criminoso

Fizeste-me mil maldades
e uma maldade muito grande
que não se faz
acho que devo ter sido a pessoa
a quem fizeste mais maldades
nem deves ter feito a ninguém
uma maldade tão grande
como a que me fizeste a mim
não sei se tens remorsos
tu dizes que não tens remorsos nenhuns
porque dizes que és um vil criminoso
para mim
eu também sou uma vil criminosa
mas não para ti
desconfio que tens o remorso
de ter alguns remorsos
por me teres feito mil maldades
e uma maldade muito grande
a maldade muito grande está feita
e não se faz
acho que essa maldade muito grande
nos aproximou um do outro
em vez de nos afastar
mas para mim é um drôle de chemin
e para ti também deve ser
mas com um vil criminoso nunca se sabe




in “Um Jogo Bastante Perigoso”




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