segunda-feira, 5 de novembro de 2018

NELLY SACHS – “Nas Moradas da Morte”



NELLY SACHS
 (Berlim, Alemanha, 1891 - Estocolmo, Suécia, 1970)
Escritora

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Descoberto o horror dos campos de concentração nazis, o filósofo Theodor W. Adorno perguntava-se: “É possível a poesia alemã depois de Auschwitz? 

Exilada na Suécia, uma obscura escritora de filiação judaica e língua alemã, Nelly Sachs, não se mostrou de acordo. Nunca passara por um campo da morte, mas tinha sido testemunha, ao longo de sete anos, do sofrimento do seu povo, arrastado para lugares de onde não havia regresso. Ela própria escapou à tangente: já a ordem de deportação havia sido emitida em seu nome quando os bons ofícios de Selma Lagerlöf, produziram os seus efeitos. Nelly, com quase cinquenta anos, foi autorizada a voar para Estocolmo com a sua mãe.

Estas Moradas da Morte foram habitadas nas frias noites de Inverno de 1943-44, enquanto, à cabeceira da mãe doente, Nelly esperava a luz do dia para poder passá-las ao papel. Viram a publicação em Berlim, em 1947, para provando que Adorno não tinha razão e transformando Nelly Sachs na “grande poetisa do destino judaico”.

Recebeu o “Prémio da Paz da Associação de Livreiros Alemães” e o “Prémio Nobel de Literatura”.


in “Mulheres Século XX” (excerto)

***

Oh as Chaminés

Sobre as moradas da morte
engenhosamente inventadas,
   Quando o corpo de Israel
desfeito em fumo partiu
   Pelo ar –
   Como limpa-chaminés uma
estrela o recebeu
   Que se fez negra
   Ou era um raio de sol?

   Oh as chaminés!
   Vias da liberdade para o pó
de Jeremias e de Job –
   Quem vos inventou e com-
pôs pedra sobre pedra
   De fumo o caminho aos
fugitivos ?
   Oh as moradas da morte,
   De arranjo convidativo
   Para o hospedeiro, outrora
hóspede –
   Ó dedos,
   Pondo a soleira de entrada
    Como uma faca entre vida
e morte –

   Ó vós chaminés,
   Ó vós dedos,
   E o corpo de Israel em
fumo pelo ar!



in “Nas Moradas da Morte” (excerto)


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